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UFC trabalha com Nutec na recuperação de metais em lixo eletrônico

Visando à redução de impactos ambientais, a técnica desenvolvida separa metais preciosos de placas de circuito

Projeto desenvolvido pela Universidade Federal do Ceará em parceria com o Núcleo de Tecnologia e Qualidade Industrial do Ceará (Nutec) busca amenizar um problema que não é novo para o mundo, mas que persiste: os impactos do descarte incorreto de lixo eletrônico.

A ideia é realizar recuperação seletiva desses materiais, extraindo deles metais que podem causar danos ambientais quando descartados de modo impróprio. Os pesquisadores estudam agora técnicas para tornar essa recuperação eficiente e viável economicamente, com a perspectiva não só de reduzir impactos ecológicos, mas também de fornecer fonte de metais preciosos para a indústria.

O método estudado se baseia nos processos chamados hidrometalúrgicos. Em resumo, utilizando soluções químicas, os metais encontrados no lixo eletrônico são dissolvidos, para depois ser separados e então poder ser usados novamente como metais puros, como explica o Prof. Mauro Andres Cerra Florez, do Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da UFC.

“O processo começa com a etapa de lixiviação, que consiste na dissolução seletiva dos metais presentes nas placas de circuito impresso em uma solução química adequada. Após a lixiviação, os metais são separados da solução e purificados para remover impurezas indesejadas. Finalmente, ocorre a etapa de eletrodeposição, em que os metais são depositados eletroquimicamente em uma superfície de eletrodo, produzindo um metal puro e de alta qualidade”, detalha o pesquisador.

Atualmente, os estudos têm focado na recuperação de resíduos de placas de circuito impresso de computadores (aquelas de coloração verde que estão dentro das máquinas), mas não há impedimento para que o método seja usado também para placas de outros tipos de equipamentos.

Alex Mesquita (esq.), graduando em Engenharia Metalúrgica, e Gabriel Saraiva (dir.), mestrando em Engenharia e Ciência de Materiais, com o material eletronico triturado (Foto: Arquivo pessoal)
Alex Mesquita (esq.), graduando em Engenharia Metalúrgica, e Gabriel Saraiva (dir.), mestrando em Engenharia e Ciência de Materiais (Foto: Arquivo pessoal)

“O processo de recuperação pode ser aplicado a uma ampla variedade de lixo eletrônico contendo placas de circuito impresso, tais como celulares, televisores, notebooks, tablets”, lista o Prof. Mauro Florez. A partir de peças como essas, podem ser obtidos materiais como metais preciosos (ouro, prata e paládio), metais-base (cobre, estanho e níquel) e outros metais como alumínio e ferro.

“A recuperação desses materiais é importante tanto para a economia quanto para a preservação do meio ambiente, pois eles podem ser reutilizados em novos produtos e equipamentos eletrônicos, reduzindo a necessidade de extração de novos recursos naturais”, afirma.

TÉCNICAS

A recuperação de lixo eletrônico por si só não é novidade, uma vez que já existem técnicas empregadas para esse fim, como separação por gravidade e processos pirometalúrgicos, destinadas a diferentes tipos de metais.

A técnica usada pelos pesquisadores da UFC, porém, se destaca pela eficiência energética e menor impacto ambiental. Além disso, as vantagens se estendem aos fatores econômicos, dado o menor custo operacional.

“Em comparação com outros métodos de recuperação de metais, o processo hidrometalúrgico utilizado no projeto tem a vantagem de não produzir gases tóxicos e de requerer um menor consumo energético, o que reduz a emissão de gases de efeito estufa”, garante o pesquisador.

“No entanto, é importante destacar que, como em qualquer processo industrial, a recuperação de metais de placas de circuito impresso pode gerar resíduos e soluções residuais que precisam ser gerenciados de forma adequada, para evitar impactos ambientais negativos”, ressalta.

Uma outra forma de tornar o projeto mais eficiente e ainda mais positivo ambientalmente é incluir as pessoas que trabalham com a separação do lixo, ideia que está no radar dos pesquisadores. Isso seria feito por meio de treinamentos para que os catadores possam identificar as placas de circuito com potencial de recuperação.

“Esse treinamento pode ser feito de forma acessível e não requer necessariamente a utilização de tecnologias sofisticadas, agregando valor à cadeia produtiva”, diz o Prof. Mauro Florez. “Dessa forma, os catadores de lixo não precisam ter acesso à tecnologia em si, mas sim ao conhecimento necessário para identificar as placas de circuito impresso com potencial de recuperação e encaminhá-las para as plantas de processamento.”

Da esquerda para a direita: Ari Clecius Alves de Lima (Nutec), Prof. Walney Silva Araujo (UFC), Prof. Mauro Andres Cerra Florez (UFC), Daniel de Castro Girão (Nutec), Gabriel Saraiva (UFC) e Alex Mesquita (UFC) (Foto: Arquivo pessoal)
Da esquerda para a direita: Ari Clecius Alves de Lima (Nutec), Prof. Walney Silva Araujo (UFC), Prof. Mauro Andres Cerra Florez (UFC), Daniel de Castro Girão (Nutec), Gabriel Saraiva (UFC) e Alex Mesquita (UFC) (Foto: Arquivo pessoal)

SAIBA MAIS

O projeto conta com a participação dos professores Walney Silva Araújo e Mauro Andres Cerra Florez, ambos do Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da UFC, além dos pesquisadores Ari Clecius Alves de Lima e Daniel de Castro Girão, do Nutec. Participam ainda Gabriel Saraiva e Alex Mesquita, mestrando e graduando da UFC, respectivamente.

A pesquisa faz parte de um projeto maior de valorização de resíduos eletrônicos conduzido pelo Nutec, e já há previsão de depósito de patente, além de perspectiva de transferência de tecnologia na indústria, por meio da agência de inovação do próprio Nutec.

Fonte: Prof. Mauro Andres Cerra Florez, do Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais – e-mail:  mauro.cerra@ufc.br

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Kevin Alencar 10 de maio de 2023

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