Pesquisadores de diversas áreas da Universidade Federal do Ceará desenvolveram uma nova máscara de respiração assistida, não invasiva, para ser utilizada por pacientes com problemas respiratórios. Batizada de Wolf Mask, a tecnologia difere de outros equipamentos do tipo devido à sua versatilidade, podendo ser utilizada por pacientes com diversos tipos de problemas respiratórios. Ela acaba de ter sua patente expedida pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI).
No seu uso mais simples, a Wolf Mask pode ser utilizada junto com ventiladores portáteis, a exemplo de BiPAP e CPAP. Em situações complexas, pode ser acoplada a ventiladores mecânicos em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) e emergências respiratórias.
Mas ela ainda pode ser conectada diretamente aos gases medicinais, seja em emergência (pacientes em uma ambulância, por exemplo), seja para pacientes graves, com necessidade de alto fluxo (oferta de gases com maiores taxas de oxigênio).
IDEIA SURGIU DE MÁSCARA DE MERGULHO
A ideia da máscara surgiu no início da pandemia da covid-19 no Ceará, em março de 2020. O Prof. Glauco Lobo, vice-reitor da UFC, recebeu de um amigo uma máscara de mergulho adaptada para o uso em pacientes de covid na Europa e pediu que o Complexo Hospitalar da UFC avaliasse se o equipamento seria útil.
Após estudo, o uso da máscara de mergulho acabou sendo descartado devido a suas limitações, mas os responsáveis pela avaliação perceberam que alguns aspectos poderiam ser incorporados para melhorar os equipamentos já existentes.
Com apoio do vice-reitor e com coordenação de projeto do pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação, Prof. Rodrigo Porto, foi montado um grupo multiprofissional que incluía pesquisadores da Medicina, Fisioterapia, Design e Engenharia de Teleinformática.
“Pegamos as coisas boas dela, como não necessitar de um ventilador mecânico, e o fato de ter fluxo de ar separado. Tentamos trazer essas características para máscaras que já existiam”, lembra o Prof. Arnaldo Peixoto Júnior, da Faculdade de Medicina, e um dos inventores da Wolf Mask.
Os pesquisadores levaram os modelos de máscaras já existentes para a equipe de pesquisadores de Design e explicaram as melhorias que pretendiam a partir da máscara de mergulho. “Levei um arsenal de coisas para eles entenderem como funcionam esses equipamentos e o que estávamos querendo. Eles pegaram na hora”, lembra a fisioterapeuta Andréa Nogueira, coordenadora da Residência no Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC) e outra inventora da Wolf Mask.
Os designers adaptaram o equipamento de modo que ele pudesse ser utilizado em ventiladores portáteis (o que a máscara de mergulho já permitia), mas incorporasse também o uso em ventilação mecânica e no alto fluxo.
Nesse último ponto, um diferencial: como a máscara é bem menor do que os equipamentos atualmente em uso no mercado, há uma redução significativa da quantidade de oxigênio necessária no alto fluxo.
A usabilidade da máscara também foi aprimorada e submetida a vários testes. O fluxo de ar, que era jogado diretamente na face dos pacientes nas máscaras tradicionais, também foi alterado para ser lançado pelas laterais, sem ressacar o olho. Detalhes que parecem simples, mas fazem diferença na aceitação do equipamento pelos pacientes.
O que surgiu a partir dessas inúmeras intervenções foi algo totalmente novo. “A máscara foi sendo melhorada e ficou de uma forma que nenhuma outra interface faz o que ela faz”, diz Andréa Nogueira.
PATENTE EM TEMPO RECORDE
O processo de desenvolvimento foi muito rápido. O trabalho do grupo multidisciplinar começou no início de 2021 e, em agosto, o pedido de patente já estava sendo feito ao INPI. Processos como esse podem levar vários anos para gerar um registro de patente. Catorze meses depois, no entanto, o registro já havia sido concedido, beneficiado por uma norma interna do INPI que prioriza a análise de inventos que tenham relação com o combate à covid-19.
“Existem diversos equipamentos sendo utilizados nessa área, alguns com patentes e outros apenas com licença de uso. Apesar disso, a Wolf Mask mostrou que oferece benefícios que as já existentes não dispõem. A questão da versatilidade, por exemplo. Ela pode ser utilizada tanto em âmbito hospitalar, como ambulatorial ou transporte de pacientes. Ela incorporou diversas características e, no meu modo de ver, esse foi um dos motivos de a patente ter sido concedida”, explica o Prof. Glauco Lobo.
A patente é uma etapa fundamental para a utilização da Wolf Mask, mas não a última. O próximo passo é a conclusão dos estudos clínicos, que irão dimensionar os benefícios do equipamento para diferentes tipos de pacientes: com apneia do sono; no pós-operatório de cirurgia cardíaca; e aqueles com insuficiência respiratória aguda, de enfermaria e emergência. A expectativa dos pesquisadores é que os estudos clínicos sejam concluídos até o início do ano, mas os resultados iniciais já se mostraram promissores.
Se isso se confirmar, o passo seguinte será obter licença da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e o registro para que a máscara possa ser amplamente utilizada. “A Wolf Mask foi uma história de sucesso. Primeiro, porque foi um grupo formado dentro da Universidade, com testes dentro dos hospitais universitários. Segundo, porque nasceu de um grupo multidisciplinar, de ramos (de conhecimento) bem diferentes. E, por fim, porque é uma coisa que veio para ficar: nasceu de uma necessidade, do enfrentamento da covid, que resultou na oportunidade de fazer uma coisa que ficasse por muitos anos, não apenas no combate à covid”, avalia o Prof. Arnaldo Peixoto Jr.
A Wolf Mask tem como inventores responsáveis o Prof. Arnaldo Peixoto Jr. e a fisioterapeuta Andréa da Nóbrega Nogueira, ambos do HUWC. Também são inventores os professores Carlos Eugênio Moreira de Sousa e Diego Eneas Peres Ricca (Design); Jarbas Aryel da Silveira e Fábio Cisne Ribeiro (Engenharia de Teleinformática); além da fisioterapeuta do HUWC, Renata dos Santos Vasconcelos; e do Prof. Renan Magalhães Montenegro Júnior, gerente de Ensino e Pesquisa do Complexo Hospitalar da UFC. Da equipe inventora da Wolf Mask também participam o Prof. Glauco Lobo, autor da ideia, e o Prof. Rodrigo Porto Cavalcanti, coordenador do projeto. O projeto de desenvolvimento contou com financiamento da Fundação Cearense de Pesquisa e Cultura (FCPC).
Fonte: Andréa da Nóbrega Cirino Nogueira, fisioterapeuta (e-mail: ancnogueira@gmail.com) e Arnaldo Aires Peixoto Jr., médico (e-mail: arnaldoapj@gmail.com)
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