Agência UFC

Saúde

Tratamento com laser ajuda a prevenir perda de paladar durante quimioterapia

A tecnologia evita que pacientes com câncer tenham sua alimentação prejudicada e precisem interromper o tratamento

Apesar de ser o principal método de tratamento para combater o câncer, a quimioterapia traz consigo uma série de efeitos colaterais que, por muitas vezes, debilitam o paciente. Entre os mais comuns, estão por exemplo a queda de cabelo, náuseas e até o surgimento de feridas. Um deles pode ser especialmente prejudicial, forçando inclusive a interrupção do tratamento: a perda do paladar.

Esse efeito colateral em específico, também chamado de disgeusia, é foco de uma pesquisa que vem sendo desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Odontologia da Universidade Federal do Ceará. A partir de terapia com uso de laser, a equipe de pesquisadores promove a proteção das papilas gustativas, normalmente atingidas pela quimioterapia, o que gera a perda de apetite.

“O paciente que está em quimioterapia perde o paladar porque o quimioterápico não afeta apenas o tumor, mas afeta qualquer tecido do corpo que tenha uma alta capacidade de reprodução. A pele fica seca, o cabelo cai e o paladar é perdido por conta dos botões gustativos”, explica o Prof. Paulo Goberlânio Silva, um dos orientadores do estudo.

Evitar a disgeusia é importante para garantir que o paciente consiga manter uma boa alimentação durante todo o tratamento: se a alimentação estiver  prejudicada, haverá maior susceptibilidade aos efeitos negativos da quimio, aumentando as chances de sua interrupção.

Foi pensando nisso, e também considerando que não há medicamentos totalmente eficazes para combater a disgeusia, que os pesquisadores decidiram testar o uso do laser, aplicando-o diretamente sobre as papilas gustativas, como forma de reconstruí-las. São elas as responsáveis por fazer o paladar funcionar corretamente, dando  informações sobre as condições e o sabor do alimento, por exemplo.

A lógica por trás do procedimento está baseada na capacidade que o laser tem de reverter danos aos tecidos do organismo humano por meio de fótons de luz, que são absorvidos e estimulam a reprodução e cicatrização celular. Isso já é feito para tratar ferimentos no tecido cutâneo (pele), por exemplo. A ideia, portanto, era que os botões gustativos pudessem também ser beneficiados com esse estímulo.

A prática tem se mostrado tão promissora quanto a teoria até aqui. A equipe acompanhou, durante seis meses, 135 pacientes com câncer de mama em tratamento com quimioterapia, divididos em dois grupos, com apenas um deles recebendo a terapia com laser nas papilas gustativas.

Aplicação de laser na parte interna da bochecha de paciente
O uso do laser tem se mostrado promissor para tratar a disgeusia (Foto: Reprodução/UFCTV)

Os resultados foram claros: enquanto aqueles que não receberam a laserterapia tiveram perda de paladar e de peso em até 20%, os que foram tratados com o laser não apenas conseguiram se manter durante toda a quimio sem perda de peso como, em alguns casos, até tiveram aumento de massa.

Com isso, a eficácia da quimioterapia acaba por ser melhor garantida, já que os medicamentos podem continuar a ser aplicados sem permitir brechas para o desenvolvimento de resistência tumoral.

“Quando o paciente perde muito peso, o oncologista tem de diminuir a dose do quimioterápico ou até suspender o tratamento. Toda vez que você para de administrar a droga, o tumor tende a desenvolver resistência. Se o oncologista consegue sustentar aquela dose durante todo o tratamento, a possibilidade de cura aumenta significativamente”, explica o Prof. Paulo Goberlânio.

METODOLOGIA RECENTE

A UFC conta, desde maio de 2022, com um Centro de Laserterapia em Odontologia (CELO), vinculado à Faculdade de Farmácia, Odontologia e Enfermagem, que já vem aplicando a tecnologia como recurso terapêutico para diferentes problemas bucais, de feridas à recuperação de pós-operatórios.

Além de eficaz, o tratamento conta com uma boa dose de praticidade. “O laser é um aparelho portátil, então a gente consegue levar [para qualquer lugar]. É um aparelho só, que tem uma potência fixa de 100 miliwatts, e tem comprimentos de ondas diferentes”, explica a pesquisadora Cássia Nóbrega, cuja dissertação de mestrado desenvolveu-se em torno da laserterapia nos pacientes de câncer.

Paciente deitada em cadeira tendo laser aplicado na boca por enfermeira
O objetivo agora é encontrar as melhores metodologias para aplicação do laser (Foto: Reprodução/UFCTV)

O uso do laser para restauração e cicatrização celular já é abrangente, mas algo relativamente novo, sobretudo no campo da odontologia. “Se formos buscar na literatura, há uma grande gama de protocolos diferentes, porque a gente não sabe ainda qual o melhor para o tratamento dessa condição”, diz a Profª Ana Paula Alves, que também orienta o estudo.

Por isso, a pesquisa não deve parar aí, já que agora a ideia é justamente estudar os possíveis protocolos de aplicação do laser para uma melhor eficiência no tratamento, inclusive reduzindo o tempo necessário para a terapia.

“Conseguimos dar uma condição nutricional melhor para esses pacientes”, ressalta Cássia. “O que a gente quer descobrir é qual laser vai ter mais eficácia, com menor tempo clínico. [Isso] leva à necessidade de outros estudos, principalmente estudos laboratoriais, para a gente entender qual o mecanismo real de ação da disgeusia”, projeta.

Fonte: Profª Ana Paula Alves, do Programa de Pós-Graduação em Odontologia da UFC – e-mail: ananegreirosnunes@gmail.com

USE NOSSAS MATÉRIAS

A reprodução dos textos da Agência UFC é permitida, com atribuição. Caso o texto seja reproduzido na íntegra, ele deve ser assinado com o nome do repórter seguido do identificador “da Agência UFC”. Caso o texto passe por cortes ou ajustes no processo de edição, deve-se publicar apenas “da Agência UFC”, ou forma semelhante, de acordo com os padrões adotados pelo veículo.

Saiba mais sobre como usar as matérias da Agência UFC

Kevin Alencar 28 de junho de 2022

Assuntos relacionados

Sequência de DNA vista por meio da lente de um óculos (Foto: Ribamar Neto/UFC) Cientistas pesquisam vacina terapêutica para HPV

Atual vacina profilática distribuída no Brasil cobre apenas quatro tipos do vírus e deixa 30% dos casos de infecção sem proteção

Isolamento social na covid-19 afetou mais a saúde mental de quem tinha doenças crônicas preexistentes

Pesquisa identificou que a existência de doenças crônicas aumentou o risco de se desenvolverem sintomas depressivos durante o distanciamento social na primeira onda de covid-19

Em primeiro plano, mãos com luva seguram uma placa de petri com pequenas pastilhas brancas, os curativos ósseos, Ao fundo, desfocada, a pesquisadora Erika Luz Pesquisadores da UFC desenvolvem curativo de regeneração óssea voltado para uso odontológico

Pesquisa em fase pré-clínica aponta uso promissor de curativo à base de celulose bacteriana e estrôncio