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Composto contra câncer colorretal é desenvolvido com nanotecnologia; produto é a 30ª carta patente da UFC

Pesquisadores conseguiram criar um composto a partir do ácido betulínico, substância com potencial antitumoral, e desenvolver um supositório que poderá ser utilizado no tratamento do câncer

Pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Química da Universidade Federal do Ceará conseguiram desenvolver um composto inovador a partir do ácido betulínico que poderá vir a ser utilizado no tratamento do câncer colorretal, o terceiro tipo mais comum no Brasil. A inovação já recebeu a carta patente, tornando-se a 30ª da UFC.

Nos testes in vitro (realizados fora do organismo vivo, com células ou tecidos), o ácido betulínico sempre despontou como um fármaco promissor na luta contra o câncer. Isso porque ele possui uma atividade antitumoral seletiva – ou seja, ataca prioritariamente as células cancerosas, afetando pouco as sadias.

Apesar desse potencial, os pesquisadores têm dificuldade para realizar testes em seres vivos porque a substância é pouco solúvel em água, o que dificulta bastante sua absorção pelo organismo.

Utilizando nanotecnologia, os pesquisadores da UFC conseguiram superar esse problema. Eles envolveram o ácido betulínico em nanogotículas de óleo. Com isso, criaram uma nanoemulsão estável, que pode ser dispersa na água e, portanto, absorvida pelo organismo.

Ao mesmo tempo, essas nanogotículas garantem a liberação controlada do ácido no organismo. “Uma das propriedades dos materiais nanoencapsulados é exatamente essa liberação controlada. Dessa forma, o ativo é liberado lentamente, em uma faixa de concentração que consegue atuar de forma eficaz e, ao mesmo tempo, não atinge valores tóxicos”, explica a Profª Nágila Ricardo, orientadora da pesquisa. A principal autora do trabalho é a doutoranda Louhana Moreira Rebouças.

Imagem: Pesquisadoras trabalham em laboratório
A doutoranda Louhana Moreira Rebouças (dir.) e sua orientadora, Profª Nágila Ricardo (esq.): pesquisadoras integram a equipe que garantiu a 30ª patente da UFC (Imagem: Divulgação)

Os pesquisadores alertam que, apesar de já terem obtido patente com a inovação, a substância ainda não foi submetida aos testes pré-clínicos e clínicos (em humanos), que são os passos seguintes para que esse composto de ácido betulínico possa vir a ser usado como medicamento no combate ao câncer. “Nossa expectativa é de que não haja reações adversas devido a sua seletividade antitumoral e pela liberação controlada in vitro comprovada em nossos testes”, explica a Profª Nágila.

OPÇÃO PARA TRATAMENTO DO CÂNCER

Uma substância com propriedade antitumoral seletiva é particularmente importante no caso do câncer colorretal, o qual abrange os tumores localizados na parte final do intestino grosso (o cólon) e no reto (parte anterior ao ânus), e atinge principalmente pessoas com mais de 50 anos.

De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), esse é o terceiro tipo de câncer mais comum no Brasil, atrás apenas dos de próstata e de mama (e excluindo-se os de pele não melanoma). Estima-se que cerca de 41 mil casos são registrados por ano no País. Se descoberto precocemente, o câncer colorretal tem índices de cura em torno de 90%.

Em casos mais avançados, além da cirurgia, é necessário tratamento com quimioterapia e radioterapia. Dependendo da situação, há vários protocolos medicamentosos possíveis de serem aplicados na quimioterapia. O problema é que alguns deles costumam provocar fortes reações adversas.

Um exemplo disso é o tratamento com irinotecano: entre 15% a 25% dos pacientes tratados com essa substância desenvolvem quadro de diarreia grave (quando o paciente apresenta pelo menos sete episódios de diarreia líquida por dia) porque as células saudáveis de proteção da mucosa intestinal são destruídas no processo e não conseguem ser reparadas pelo organismo.

Situações como essa provocam uma intensa desidratação que, em casos extremos, podem até chegar a interromper o tratamento. Substâncias que possam atuar de forma seletiva, portanto, podem despontar como alternativa, ampliando o arsenal de medicamentos contra esse tipo de câncer e diminuindo as reações contrárias.

Imagem: duas pesquisadoras manipulam substância em um tubo
Pesquisadoras manipulam a nanoemulsão com o bioativo, ácido betulinico, antes de formar o supositório (Imagem: Divulgação)

SUPOSITÓRIO

Com o composto, os pesquisadores desenvolveram sua aplicação em um supositório retal. A opção pelo supositório se deu por possibilitar a atuação do composto mais próximo do local do tumor. “Além disso, o supositório pode ser uma via de administração alternativa quando se pensa em pacientes que tenham dificuldade de deglutição, estão em coma ou ainda quando o corpo já está rejeitando a via parenteral”, complementa a Profª Nágila Ricardo.

A ideia é que esse supositório seja utilizado prioritariamente para casos de pacientes que não tenham entrado em processo de metástase. “Como o foco do medicamento seria para atuação in situ (no local), preferencialmente seria para casos de tumores que ainda não entraram em metástase. No entanto, essa informação só poderá ser confirmada após testes in vivo”, diz a Profª Nágila.

O trabalho é um desdobramento da dissertação de mestrado da pesquisadora Louhana Moreira Rebouças. Naquele trabalho, a hoje doutoranda já havia formulado e caracterizado as nanoemulsões de ácido betulínico. Ele foi testado contra células cancerosas de leucemia, carcinoma pulmonar, gliobastoma, fibroblastos normais e carcinoma colorretal, obtendo seu melhor desempenho contra este último.

PATENTE

O supositório com o composto tornou-se a 30ª patente da Universidade Federal do Ceará. O registro do invento teve processo iniciado em setembro de 2021 e, em pouco tempo, foi concedido. Isso porque a inovação se enquadra na categoria “Tecnologia para tratamento de saúde”, que recebe análise prioritária do Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI).

Representação gráfica do ácido betulínico
Representação gráfica do ácido betulínico

O registro marca o crescimento acelerado das patentes obtidas pela Universidade. A primeira foi em 2019. No ano seguinte, a UFC conseguiu registrar outras seis invenções ou processos. Já em 2021, o número de novas patentes foi de 16, enquanto neste ano foram obtidas mais sete.

Quando se analisam os dados por unidade acadêmica, constata-se que o Centro de Ciências Agrárias foi responsável pelo registro de 14 patentes, seguido pelo Centro de Ciências, com oito; pelo Centro de Tecnologia, com cinco; e pela Faculdade de Farmácia, Odontologia e Enfermagem (FFOE), responsável pela 30ª patente, com três.

A patente registra como inventores a Profª Nágila Ricardo, do Departamento de Química Orgânica e Inorgânica; a doutoranda Louhana Moreira Rebouças, além de Alexandre Carreira da Cruz Sousa, Tamara Gonçalves de Araújo, Fátima de Cássia Evangelista de Oliveira, Emília Maria Alves Santos e Nilce Viana Gramosa Pompeu de Sousa Brasil.

Fonte: Profª Nágila Ricardo – e-mail: naricard@ufc.br

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Erick Guimarães 29 de junho de 2022

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