Domingo também é dia de ler. O projeto Leituras na Praça, do Curso de Letras da Universidade Federal do Ceará, reúne, no último domingo de cada mês, dezenas de pessoas para um momento literário nas praças e parques de Fortaleza. A ação de extensão, criada pela Profª Maria Inês Cardoso, tem como diferencial o uso desses espaços públicos para promover o hábito da leitura. O repertório literário conta com obras nacionais e internacionais. Os encontros são mediados por um leitor, escolhido previamente pela organização das ações.
O projeto nasceu em 2016, ano que marca os 400 anos da morte do romancista espanhol Miguel de Cervantes. A Profª Inês Cardoso, criadora e coordenadora do projeto, explica que o objetivo era homenagear o autor e desmistificar a ideia de que os clássicos literários são complicados e inacessíveis. “Um dos objetivos era compartilhar com as pessoas aquela mesma sensação de surpresa que eu via em sala de aula quando os alunos liam, por exemplo, as Novelas exemplares, de Cervantes. Muitos acham que esses clássicos são de difícil acesso, e quando líamos as novelas, todo mundo ficava surpreso por entender perfeitamente e por gostar e se sentir à vontade com o texto”, diz a coordenadora.
No início do ano, a coordenação escolhe um grupo de leitores-mediadores voluntários, entre professores, escritores e leitores experientes. Em comum acordo, designa-se um mês para cada um. Os leitores, por sua vez, escolhem a obra que desejam levar para que seja lida e discutida com o público participante. As pessoas que vão aos encontros recebem o texto, previamente copiado, que pode ser um fragmento de romance, conto, peça de teatro ou poesia.
Neste ano, por escolha da organização, foram trabalhadas apenas obras literárias de mulheres autoras. Em um dos recentes encontros do projeto, realizado no fim de setembro, a obra escolhida foi Desmundo, da romancista cearense Ana Miranda. A autora, inclusive, esteve presente na ocasião.
O público do projeto é variado. Alguns são estudantes, professores, moradores da Capital e do Interior. Sonália Pereira, por exemplo, veio do município de Porteiras, interior do Estado, participar da ação. A professora, que é também contadora de história, revela que seu interesse em participar foi o gosto pela leitura. “Sou professora de ensino infantil e fundamental e o que me trouxe até aqui para prestigiar o evento foi o interesse pela literatura. É a primeira vez que venho, mas não será a última”, adianta.
Além do incentivo à leitura, a iniciativa trabalha com a importância de se ocupar os locais públicos, em especial as praças. Inês Cardoso conta que sempre sentiu a necessidade de contribuir para o melhor aproveitamento das praças e parques da cidade e que esse foi um dos motivos que inspiraram a ação. “Um dos objetivos do projeto era que pudéssemos aproveitar as praças em todo o seu potencial. A ideia era revivescer esses espaços públicos e culturais”, afirma.
Em 2018, o projeto foi um dos agraciados com o Prêmio IPL ‒ Retratos da Leitura, promovido pelo Instituto Pró-Livro. Para a coordenadora, o momento foi de grande importância, pois possibilitou o intercâmbio com outras iniciativas de leitura. “Isso que me deixou feliz, a possibilidade de conhecer projetos que, assim como o Leituras, têm como objetivo principal promover o livro como agente capaz de transformar as pessoas em cidadãos pensantes e com senso crítico. É por isso que eu tenho essa reverência enorme pela literatura e pelo livro em geral”, diz Inês Cardoso.
Por ser um projeto itinerante, a proposta é realizar as atividades em diferentes praças. Entretanto, por um pedido do Movimento Proparque as ações vêm ocorrendo fixamente no Parque Rio Branco, localizado na Av. Pontes Vieira. O Proparque foi criado pela comunidade para reivindicar melhorias para o Parque Rio Branco e, atualmente, tem uma parceria com o projeto Leituras na Praça, que, segundo a organização, volta a ser itinerante no próximo ano.
Para Beatriz Vasconcelos, bolsista de extensão do projeto, a leitura pode ajudar na melhoria de uma comunidade e o Leituras na Praça cumpre esse papel social. “É muito gratificante participar de um projeto que leva literatura às praças. Ler é um ato político e aqui, no Parque Rio Branco, ainda mais”, constata a estudante.
SERVIÇO:
As atividades ocorrem no último domingo de cada mês, das 10h às 12h. Qualquer pessoa que tenha interesse pode participar. Informações sobre a obra e o local escolhidos podem ser encontradas nas redes sociais da ação.
Facebook: Leituras na Praça
Instagram: @leiturasnapraca
Ely Eulle Viana, sob supervisão de Narjara Pires
Fonte: Inês Cardoso, coordenadora do projeto – inesufc@yahoo.com.br