Um estudo desenvolvido em parceria entre a a Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), a Universidade Federal do Ceará, a Universidade Federal do Piauí (UFPI) e a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) pode ajudar na formação de políticas públicas e na tomada de decisões visando à proteção de ecossistemas hidrográficos e do solo, sobretudo no Nordeste. O objetivo foi avaliar a presença de elementos potencialmente tóxicos em determinada amostra de solo, de modo a gerar valores que pudessem servir de referência para políticas ambientais.
Foi escolhida para avaliação a bacia hidrográfica do rio Verruga, na Bahia, de onde foram colhidas amostras de solos com mínima ou nenhuma intervenção humana, justamente com o intuito de estabelecer o que seria uma espécie de “padrão” para aquele ambiente: os chamados valores orientadores de qualidade do solo (ou valores de referência de qualidade – VRQs, na sigla em inglês).
Para análises como essa, os pesquisadores levam em consideração a concentração natural de elementos como arsênio, cádmio, cobalto, crômio, cobre, ferro, manganês, níquel, chumbo e zinco, todos considerados elementos potencialmente tóxicos (PTEs, em inglês), assim chamados por serem compostos químicos capazes de prejudicar a qualidade do solo se estiverem em desequilíbrio.
As análises mostraram alta variabilidade dos valores dos PTEs no solo, em comparação a outras localidades do Brasil e do mundo, com atributos químicos e variação topográfica ao longo da bacia hidrográfica heterogêneos.
“Os atributos químicos e a granulometria [estudo da distribuição das partículas] dos solos superficiais das áreas naturais da bacia do rio Verruga foram considerados altamente variáveis”, explica a Profª Maria Eugenia Ortiz Escobar, do Departamento de Ciências do Solo da UFC, colaboradora no estudo. “As concentrações naturais desses elementos foram consideradas medianas por apresentarem alta variabilidade em relação a outras localidades do Brasil e do mundo”, complementou a pesquisadora.
“Por exemplo, os valores foram geralmente menores do que aquelas relatadas para solos na literatura internacional (solos de Cuba, China e Irlanda). No entanto, foram maiores quando comparados aos solos de alguns estados brasileiros: para cádmio (comparados com solos da Paraíba e Piauí), cobalto (comparados com solos de Pernambuco), crômio (comparados com solos da Amazônia, Paraíba e Pernambuco), cobre e manganês (comparados com solos da Amazônia e Pernambuco), por mencionar alguns”, exemplifica a pesquisadora.
Entender como se dá a distribuição dos elementos potencialmente tóxicos no solo é importante para o ecossistema da região como um todo, já que os poluentes podem ser transferidos para plantas e para águas subsuperficiais por conta dos processos naturais hidrológicos e de erosão, o que pode acabar por afetar a segurança alimentar de populações dependentes daquela região. Daí a necessidade que muitos países veem de estabelecer seus próprios VRQs.
O objetivo de estudos como esse é garantir uma gestão aprimorada do solo, a partir, por exemplo, de programas de conservação que visem à sustentabilidade. Ou seja, se os valores-padrão são conhecidos, políticas públicas com esse intuito se tornam mais fáceis.
Um problema, no entanto, é que estabelecer VRQs para áreas muito grandes e diversas, como o Brasil, acaba por não representar com fidelidade as especificidades e diversidades químicas de cada solo. VRQs regionalizados, como a pesquisa no rio Verruga buscou produzir, mostram mais sucesso, por considerarem as características locais e o contexto da bacia hidrográfica analisada.
“Infelizmente, o estado do Ceará ainda não tem definidos seus valores orientadores de qualidade do solo, sendo, dessa forma, necessário utilizar os dados dos estados vizinhos quando se tem por objeto fazer a avaliação de uma determinada área para uma gestão ambientalmente correta”, destaca o Prof. Cácio Luiz Boechat, docente da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e da Universidade Federal do Piauí.
A pesquisa rendeu artigo publicado no periódico internacional Chemosphere. O artigo (em inglês) pode ser lido aqui. O trabalho é resultado da tese de doutorado do pesquisador Kaíque Mesquita Cardoso, do Programa de Pós-Graduação em Agronomia (Fitotecnia) da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, orientado pelo Prof. Cácio Luiz Boechat e coorientado pelo Prof. Clístenes Williams Araújo (da Universidade Federal Rural de Pernambuco), com quem a UFC mantém parceria de trabalho.
Fonte: Profª Maria Eugenia Ortiz Escobar, do Departamento de Ciências do Solo da UFC – e-mail: mariaeugenia@ufc.br
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