Por Narjara Rocha
do Blog Divulgando a Extensão
No Sertão dos Inhamuns, jovens camponeses estudam e aplicam o conhecimento adquirido, na sala de aula, em suas comunidades. Lá é desenvolvida uma forma diferente de educar. Para que o caminho de jovens nascidos em cidades do interior não seja o êxodo para as capitais, as escolas familiares agrícolas (EFAs) buscam o desenvolvimento local sustentável, através do fortalecimento da agricultura familiar e da inserção profissional dos jovens no meio rural. E é em uma dessas instituições que o projeto de extensão Universidade, Escola Camponesa e Convivência no Semiárido atua.
A Escola Família Agrícola Dom Fragoso está situada na localidade de Santa Cruz, a 14 km da cidade cearense de Independência, e é uma alternativa educacional com objetivo de desenvolver o campo, considerando a convivência com o semiárido.
A área de 135 hectares, na depressão sertaneja, abriga a estrutura da escola com dois alojamentos para alunos, duas salas de aula, refeitório, biblioteca, laboratório de informática, uma rádio interna, quatro alojamentos para monitores e auxiliares e uma sala de professores.
Atualmente, a instituição atende 130 alunos dos municípios de Independência, Tauá, Quixeramobim, Santa Quitéria, Monsenhor Tabosa, Choró, Crateús, Tamboril, Nova Russas e Parambu. Inicialmente, a EFA trabalhava apenas com alunos do ensino fundamental, mas, atualmente, oferece também turmas de ensino médio e profissional em agropecuária.
Na EFA Dom Fragoso, os estudantes alternam 15 dias na escola e 15 dias na comunidade, para que possam praticar atividades dirigidas às comunidades de origem
O projeto político-pedagógico propõe-se diminuir os índices de evasão e de repetência dos estudantes e estimular a permanência deles no campo. Nesse sentido, trabalha-se a educação em três dimensões: formal (escola), não-formal (comunidade e sociedade) e informal (família).
Para alcançar os objetivos traçados, é aplicada na escola a “pedagogia da alternância”: os estudantes alternam 15 dias na escola e 15 dias na comunidade, para que possam praticar atividades dirigidas às comunidades de origem.
O PROJETO DE EXTENSÃO
É nesse ambiente de valorização da terra que o projeto de extensão Universidade, Escola Camponesa e Convivência no Semiárido faz sua contribuição. A professora do Departamento de Geografia da UFC Alexandra Oliveira é quem coordena os trabalhos. Ao longo do ano, durante os dias letivos, a docente e seus alunos planejam as ações e elaboram os materiais para serem utilizados durante as visitas à EFA, que acontecem geralmente no período de férias da UFC. O trabalho de campo do grupo da UFC na escola camponesa dura cerca de cinco dias.
Durante a estadia do grupo de universitários, ocorrem oficinas para troca de experiências com os alunos e as comunidades e são propostas técnicas de preservação e convivência com o semiárido. Além disso, já foi produzido material didático relacionado ao uso de geotecnologias, conjunto de tecnologias para coleta, processamento, análise e disponibilização de informação geográfica.
O grupo pretende ainda produzir outros materiais, a partir de demandas dos professores e alunos da EFA. O intuito é deixar na escola um instrumento didático de pesquisa e encaminhá-lo para outras unidades educativas do campo. Desses encontros, já resultaram diversos trabalhos acadêmicos e participações em encontros científicos.
Para a aluna Grasiele Ribeiro, bolsista do projeto, a experiência ultrapassa a formação acadêmica e contribui para que ela seja uma pessoa melhor. “Eu me apaixono, cada vez mais, pela metodologia pedagógica e pelas ações que a escola desenvolve, (ações) que não estão preocupadas apenas com um campo sustentável, mas sobretudo com uma educação humanizada, o que me faz criar novas perspectivas para o futuro”, enfatiza a estudante do segundo semestre do curso de Geografia da UFC.
Para a professora Alexandra Muniz, coordenadora do projeto, a ida dos alunos da UFC até a escola e a troca de experiências proporcionada pela ação extensionista indicam que “ser professor não é só ter domínio de conteúdo”.
Para ela, a o projeto na EFA mostra que ser docente é estar aberto a contribuir com a comunidade, ser participativo. “Isso renova a nossa leitura de ciência, de profissão, de cidadania, de posicionamento político, de crença no que estamos fazendo. Então, levar os alunos também é dizer: ‘Olha, existem outras formas de trabalhar, não é só aquela que você está enxergando lá no estágio. Existem outras formas e é preciso abrir a cabeça para isso”, conclui a professora.
Fonte: Profª Alexandra Muniz – fone: 85 3366 9855 / e-mail: alexandra.oliveira@ufc.br