As neoplasias continuam sendo as principais causas de morbidade e mortalidade em todas as regiões do mundo, tornando o tratamento do câncer um grande desafio. O Laboratório de Oncologia Experimental (LOE) da Universidade Federal do Ceará, liderado pelos professores Manoel Odorico de Moraes Filho, Cláudia do Ó Pessoa e Carlos Roberto Koscky Paier, vem ao longo de três décadas prospectando moléculas com potencial anticâncer para a descoberta e desenvolvimento de medicamentos.
A Profª Cláudia do Ó Pessoa explica que, como muitos medicamentos anticâncer não diferenciam células tumorais das saudáveis, os pacientes acabam sendo submetidos a níveis intoleráveis de toxicidade ou resistência tumoral. Assim, permanece a busca por quimioterápicos que tenham atuação seletiva, afetando prioritariamente as células doentes (tumorais) e preservando as saudáveis.
Para contribuir com os avanços nessa área, os pesquisadores do LOE, vinculado ao Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos (NPDM) da UFC, têm se debruçado sobre várias moléculas, naturais ou sintéticas. “Dentre as moléculas identificadas como promissoras, destaca-se a classe dos pterocarpanos, que são produtos naturais com atividade biológica comprovada, como ação anticâncer, anti-inflamatória, antioxidante e antimicrobiana”, relata a Profª Cláudia do Ó Pessoa, coordenadora da pesquisa no LOE.
Os pterocarpanos são substâncias naturais, obtidas de plantas da flora brasileira. Suas propriedades anticancerígenas têm sido largamente comprovadas pela literatura científica. Em parceria com a UFC, os pesquisadores do Laboratório de Química Bioorgânica (LQB) da Universidade Federal do Rio de Janeiro, liderados pelo Prof. Paulo Costa, realizaram a síntese de vários compostos análogos aos pterocarpanos naturais.
O potencial citotóxico desses compostos foi avaliado no Laboratório de Oncologia Experimental (LOE) da UFC e a colaboração culminou na síntese do 5-carba-pterocarpano, que são substâncias análogas aos compostos naturais, mas com atividade citotóxica modulada em diversas linhagens tumorais, com seletividade e atividade biológica superior aos produtos naturais, apresentando uma ação com potencial antitumoral, como explica a Profª Cláudia do Ó Pessoa.
A 39ª carta patente obtida pela UFC revela o processo de obtenção dos análogos carba-pterocarpanos e o uso do composto 5-carba-pterocarpano em terapias anticancerígenas e é resultado das pesquisas inovadoras que vêm sendo realizadas pelo grupo da UFC, em parceria com pesquisadores da UFRJ e UERJ.
A invenção proporciona um processo de produção de novos compostos, derivados do grupo dos pterocarpanos, os análogos 5-carba-pterocarpanos que podem ser utilizados para conceber novas estratégias terapêuticas, aplicadas ao tratamento de tumores, em especial aos tumores de mama, de próstata, de cólon, glioblastoma (tumor cerebral maligno), de pulmão e tumores não sólidos, como as leucemias e síndrome mielodisplásica.
O grupo do LOE-UFC tem atuado como catalisador no desenvolvimento de novos fármacos ou novos protótipos que possam ser inseridos como potenciais insumos farmacêuticos ativos para o setor produtivo da indústria farmacêutica no tratamento do câncer.
“Na perspectiva de avançarmos a pesquisa, esforços estão sendo realizados para viabilizar os primeiros estudos em modelos animais, a fim de avaliar a segurança e validar a ação antitumoral da molécula alvo da patente. Para isso, a síntese total da molécula em grande escala está sendo desenvolvida no Laboratório de Biotecnologia e Síntese Orgânica da UFC, sob a coordenação da Profª Maria da Conceição F. Oliveira, em parceria com o grupo da UFRJ”, diz a Profª Cláudia do Ó Pessoa.
“Acreditamos que o domínio de capacitações científicas, tecnológicas e de inovações é a força propulsora para impulsionar o arsenal terapêutico no tratamento do câncer, a fim de transferi-lo para o setor produtivo”, conclui a pesquisadora.
Fonte: Profª Cláudia do Ó Pessoa, do Laboratório de Oncologia Experimental – e-mail: cpessoa@ufc.br
Texto por Milena Ribeiro
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