Agência UFC

Ciências

Resíduos de extração da pedra cariri são reaproveitados para produção de pedra artificial

Reduzindo impactos ambientais e renovando o ciclo produtivo, pesquisadores desenvolvem produto que gera patente à UFC

No sul do Ceará, uma riqueza mineral se destaca por seu potencial econômico e produtivo. Nomeada popularmente a partir da região onde é encontrada, a pedra cariri (ou calcário laminado) já se tornou representante de uma forte cultura de extração de jazidas nas cidades de Nova Olinda e Santana do Cariri, localizadas a poucos mais de 520 quilômetros da capital cearense.

Utilizada na construção civil para a fabricação de revestimentos de paredes e pisos, a pedra cariri tem sido há anos a base econômica das cidades, hoje consideradas importantes polos minerais no Estado. Entretanto, o processo de extração do calcário tem como consequência a geração de resíduos, subaproveitados e também potencialmente prejudiciais do ponto de vista ambiental.

Aproveitar esses resíduos, não apenas reduzindo o desperdício como também diminuindo os impactos ambientais, é o que propõe um invento recém-patenteado da Universidade Federal do Ceará, voltado à produção de pedra artificial utilizando como matéria-prima justamente os resíduos oriundos da extração da pedra cariri.

As placas de pedra artificial produzidas têm dimensão de 155m x 135mm x 20 mm (comprimento x largura x espessura) (Foto: Divulgação)

O resíduo da pedra cariri (RPC), ou resíduo da serragem da pedra cariri (RSPC), nomes dados a essas sobras da extração da rocha, já é objeto de estudo visando a sua utilização como fonte de outros produtos (fabricação de argamassas e concretos, por exemplo).

O que a patente da UFC propõe, por outro lado, é fortalecer o próprio objetivo final da exploração mineral na região: a criação de rochas ornamentais para revestimento. Dessa forma, haveria quase como uma renovação do ciclo produtivo a partir dos resíduos, causando um total aproveitamento da matéria-prima extraída.

“A produção é perfeitamente viável em conjunto com a indústria de extração já existente, visto que uma das matérias-primas necessárias para a produção da pedra artificial é justamente o resíduo gerado por essa indústria, resíduo este que hoje não é aproveitado”, aponta o Prof. Eduardo Cabral, do Departamento de Engenharia Estrutural e Construção Civil, um dos inventores que assinam a nova carta-patente.

INVENTO

A ideia para o produto surgiu em 2020, na disciplina Desenvolvimento de Materiais e Componentes Alternativos para a Construção Civil, do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil: Estruturas e Construção Civil, ministrada pelo Prof. Eduardo. Os alunos Ana Karoliny Lemos, Leonária Silva e Lucas Benício, oriundos da região do Cariri, propuseram o desenvolvimento da placa de revestimento com os RPCs, produzindo-a no Laboratório de Materiais de Construção Civil.

Dois anos depois, a equipe realizou o pedido de concessão de patente ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), por meio da Coordenadoria de Inovação Tecnológica (CIT) da UFC. A carta-patente foi concedida um ano após o pedido, em setembro de 2023.

O processo de produção da pedra artificial tem início com a britagem e a peneiração dos resíduos, de modo a separá-los conforme sua granulometria (ou seja, pelo tamanho dos grãos): agregado graúdo (a), agregado miúdo (b) e pó (c). Após a mistura dos resíduos com um aglomerante (resina líquida de poliéster), seguindo as proporções determinadas em laboratório, a massa é moldada para dar formato às placas.

Para avaliar a qualidade da pedra artificial, foram realizados testes de resistência à compressão, à flexão e ao impacto, de absorção de água e de desgaste por abrasão.

Em todos os testes, a pedra artificial apresentou resultados semelhantes ou pouco inferiores (mas ainda dentro do permitido para o uso em revestimentos) aos da pedra natural. No caso do teste de desgaste por abrasão, a pedra artificial chegou a ter resultado melhor, caracterizando-se como 448% mais resistente à abrasão do que a natural.

Com a carta-patente concedida e os testes apresentando resultados positivos, a expectativa, uma vez que a pedra artificial seja inserida no mercado, é de fortalecimento econômico da região. “Os primeiros beneficiados são os atuais produtores da pedra cariri natural, que poderão produzir um outro produto, a pedra cariri artificial. Os possíveis clientes são construtores, depósitos de material de construção e toda a sociedade civil”, detalha o Prof. Eduardo.

Fonte: Prof. Eduardo Cabral, do Departamento de Engenharia Estrutural e Construção Civil – e-mail: eduardo.cabral@ufc.br

USE NOSSAS MATÉRIAS

A reprodução dos textos da Agência UFC é permitida, com atribuição. Caso o texto seja reproduzido na íntegra, ele deve ser assinado com o nome do repórter seguido do identificador “da Agência UFC”. Caso o texto passe por cortes ou ajustes no processo de edição, deve-se publicar apenas “da Agência UFC”, ou forma semelhante, de acordo com os padrões adotados pelo veículo.

Saiba mais sobre como usar as matérias da Agência UFC

Kevin Alencar 7 de novembro de 2023

Assuntos relacionados

Tigelas com chá-verde e chá verde encapsulado (Foto: Ribamar Neto/UFC) Os benefícios do chá-verde encapsulado

Pesquisadoras desenvolvem cápsulas do chá-verde com todos os benefícios da bebida; novo produto é mais eficiente e não possui gosto marcante

Reprodução da tela inicial de três plataformas de jogos digitais desenvolvida pelos pesquisadores (Imagem: Divulgação) Pesquisadores utilizam jogos para aumentar interesse de alunos em disciplina de Química

A experiência é um exemplo da chamada gamificação, técnica que usa mecânicas de jogos para facilitar compreensão de conteúdo ou aumentar engajamento

Pesquisadora segurando dois recipientes: um com terra arenosa, outro com terra preta (Foto: David Motta/UFC) Reproduzindo as terras pretas da Amazônia no Ceará

Pesquisadores utilizam subprodutos do agronegócio para produzir material carbonáceo com múltiplas aplicações