Com modalidades cada vez mais intensas, o esporte em geral tem exigido muito de cada atleta. No futebol, por exemplo, são 90 minutos de movimento ininterrupto, a maior parte desse tempo com corridas de alta velocidade. Monitorar o desempenho dos atletas em uma partida como essa, portanto, torna-se essencial para a criação de um time competitivo e, ao mesmo tempo, de boas condições físicas.
Pesquisas do Instituto de Educação Física e Esportes (IEFES) da Universidade Federal do Ceará têm o objetivo justamente de suprir essa necessidade. Pesquisadores do Laboratório de Biomecânica do IEFES desenvolveram um sistema batizado de Atletec, que pode captar informações de movimento do esportista e traduzi-las para análise em tempo real pelo treinador e comissão técnica do time.
Não são precisos equipamentos de grande porte para que esse trabalho seja feito: basta uma pequena placa de acelerômetro acoplada ao corpo do atleta para detectar fatores como força, aceleração e velocidade à medida que ele se move. Essas informações são, então, enviadas via wi-fi para uma outra placa (também desenvolvida no IEFES), a qual transfere os dados por USB para o computador.
É nessa última etapa que os dados são traduzidos em informações legíveis, na forma de gráficos, por um programa de computador também criado no laboratório, o Softec. O software oferece três diferentes eixos (X, Y e Z) que permitem a leitura das informações. É possível ver, por exemplo, a altura de saltos ou a velocidade do atleta nas variações dos gráficos.
“Os gráficos correspondem ao movimento e à aceleração do atleta. De acordo com o que o atleta fizer de movimento em determinado eixo, o gráfico vai se mover com amplitude baseada nesse movimento”, explica David Mota, engenheiro do Laboratório de Biomecânica e responsável pelo desenvolvimento do Atletec.
MONITORAMENTO
Pelas informações que fornece, o Atletec se torna útil por oferecer aos treinadores a possibilidade de tomada rápida de decisões com base no que é percebido pelo monitoramento do atleta. Por exemplo, em um jogo de vôlei, o equipamento poderia informar um déficit na performance muscular de um jogador por conta dos repetidos saltos, e, assim, o treinador pode corrigir o problema.
“Observamos que ele está perdendo a performance, e isso vai ter um impacto no rendimento do jogo como um todo. Podemos, por exemplo, substituir esse atleta”, justifica o professor do IEFES Alexandre Medeiros, orientador da pesquisa. “É uma decisão que ocorre durante o jogo, não depois que perdemos o jogo”, explica.
Outra possibilidade do Atletec está na saúde preventiva dos atletas, sempre suscetíveis a lesões corporais. Nesses casos, seria possível perceber a diferença de desempenho e rendimento nos treinos e jogos antes e depois da lesão, além da taxa de recuperação do esportista, em termos de velocidade, aceleração, saltos e força, por exemplo.
“A partir disso, tomamos uma decisão: ele precisa descansar mais, se recuperar, não está pronto para o treino ou jogo de hoje, que é muito intenso”, exemplifica o professor. “[O Atletec] trabalha nessas duas vertentes: prevenção de lesão e melhora de desempenho.”
Além disso, o sistema ajuda a criar condições ideais de treino, simulando os cenários reais de jogo para o atleta, ou seja, se o jogo exige muito mais fisicamente do esportista, é preciso que os treinos repliquem essas situações, evitando descontextualização. Isso pode ser feito com dos dados obtidos pelo Atletec, que auxilia nessa simulação.
SOLUÇÃO DA UNIVERSIDADE
O monitoramento de desempenho em treinos e competições esportivas não é novidade. Hoje, já é comum o uso de instrumentos como o desenvolvido no IEFES, deixando em desvantagem quem não utiliza esse tipo de tecnologia. Trata-se, entretanto, de uma ferramenta cara, muitas vezes inviável para as equipes. Cada unidade do equipamento pode custar até R$ 15 mil, segundo informa o Prof. Alexandre.
“Numa equipe de futebol, com 30 atletas para monitorar, é grande o custo que isso vai gerar. Uma vantagem [do Atletec] é que ele foi feito por nós, e podemos tentar colocá-lo no mercado a um preço mais acessível. E também podemos e devemos usar isso dentro da Universidade”, defende.
Não há previsão de quando o produto estará disponível no mercado, visto que ainda passa por melhorias. O baixo custo, porém, dá ao projeto grande potencial comercial, suprindo as necessidades esportivas referentes a esse tipo de tecnologia. “É uma solução caseira, da Universidade, para esses problemas”, pontua o desenvolvedor do projeto, David Mota, que também integra o Laboratório de Engenharia de Sistemas de Computação (LESC), vinculado ao Departamento de Engenharia de Teleinformática (DETI).
Fonte: David Mota, engenheiro do Laboratório de Biomecânica do IEFES – e-mail: davidmota@lesc.ufc.br