O uso de aparelhos e próteses dentárias de forma segura depende de uma boa higienização desses equipamentos, de modo a evitar infecções causadas por micro-organismos. Com esse foco, a mais nova carta-patente obtida pela Universidade Federal do Ceará idealiza um produto que pode ser utilizado por dentistas, profissionais de próteses e até mesmo pacientes.
O invento é uma pequena caixa que utiliza tecnologia de LED de alta potência que, ao reagir com um corante fotossensibilizador posto nas próteses e aparelhos, realiza a descontaminação dos equipamentos, causando a morte celular de agentes microbianos. A caixa pode ser usada com aparelhos protéticos, ortodônticos, placas oclusais ou guias cirúrgicas.
Funciona assim: o aparelho a ser higienizado (que pode ser construído com qualquer material, inclusive resina acrílica), depois de enxaguado com água, tem sua superfície coberta com o fotossensibilizador (um corante diluído) e é colocado dentro da caixa. Após poucos minutos, o aparelho é retirado, novamente enxaguado e já está pronto para uso.
“O uso no consultório ou laboratório protético seria para eliminação de micro-organismos inerentes ao processo de confecção e manipulação das próteses ou aparelhos, antes da instalação na cavidade oral dos pacientes, evitando possível infecção cruzada”, explica a Profª Karina Matthes de Freitas Pontes, do Programa de Pós-Graduação em Odontologia da UFC e uma das autoras do invento.
“Isso se torna extremamente relevante em casos de instalação imediata [do aparelho ou prótese] após procedimento cirúrgico, ou em casos em que o paciente é idoso ou criança, com sistema imune comprometido ou imaturo, de forma a garantir a biossegurança”, completa a pesquisadora.
A praticidade do invento é um fator que também permite a utilização em casa pelos próprios pacientes. “Pacientes idosos ou com problemas motores, que teriam dificuldade em executar uma escovação eficaz de suas próteses, por exemplo, se beneficiariam desse dispositivo”, aponta a Profª Karina.
TERAPIA FOTODINÂMICA ANTIMICROBIANA
O funcionamento da invenção é baseado na chamada terapia fotodinâmica antimicrobiana, caracterizada justamente pela reação química do fotossensibilizador (a substância posta no aparelho antes de colocá-lo na caixa) em resposta ao LED. A técnica já tem eficácia comprovada em estudos científicos na atuação contra diferentes micro-organismos patogênicos.
“O LED, em um comprimento de onda específico, promove uma reação química no corante fotossensibilizador, desencadeando a formação de espécies reativas de oxigênio, além do oxigênio singleto, responsáveis pela morte celular de espécies microbianas”, detalha a professora.
Nos testes realizados durante o desenvolvimento da invenção, a caixa obteve resultados positivos, chegando a eliminar 100% dos fungos e espécies bacterianas presentes antes da aplicação.
Os testes foram feitos com dentaduras durante o mestrado da pesquisadora Janaína Câncio de Holanda, na época no Programa de Pós-Graduação em Odontologia da UFC. Além disso, os testes apontaram que o LED sozinho, sem o uso do fotossensibilizador, também promoveu redução eficaz de fungos.
A eliminação bacteriana e fúngica chegou a níveis similares à imersão do equipamento bucal em clorexidina (antisséptico tradicional com ação antimicrobiana). A vantagem do uso da caixa de LED, no entanto, é que ele não causa alterações nas propriedades das resinas acrílicas dos aparelhos e próteses bucais, diferentemente de substâncias como a própria clorexidina ou o hipoclorito de sódio.
“Estudos apontam que esses produtos podem causar alterações nas propriedades da resina acrílica, se utilizados incorretamente. O hipoclorito de sódio, disponível de forma caseira (água sanitária), se não for corretamente diluído ou se o aparelho ficar imerso por muito tempo, pode gerar danos significativos. Além disso, precisa ser muito bem enxaguado, para não intoxicar o paciente”, diz a Profª Karina.
Outro problema que o invento contorna é o custo financeiro de métodos que, quando não agridem a integridade das próteses, acabam sendo muitos complexos ou custosos para uso em clínica ou laboratório, ou mesmo para pacientes. A caixa de LED tem construção acessível (são LEDs de 630-660 nanômetros, com 1 a 3 W de potência, facilmente disponíveis no mercado) e potencial alto para produção industrial em baixo custo, como projeta a pesquisadora.
PATENTE
O invento representa a 45ª carta-patente obtida pela Universidade Federal do Ceará no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). A concepção foi feita durante doutorado da Profª Bruna Frota de Carvalho, que também assina a patente, no Programa de Pós-Graduação em Odontologia.
“No projeto de pesquisa [da Profª Bruna], pensávamos como viabilizar a irradiação de aparelhos protéticos para a terapia fotodinâmica, uma vez que o uso de ponteiras de LED deixaria a terapia muito demorada, já que a superfície protética é bem maior que a área das ponteiras disponíveis. Foi quando idealizamos a caixa com LEDs, para executar a irradiação simultânea de todas as superfícies protéticas”, recorda a Profª Karina.
O protótipo foi feito com auxílio do Prof. Jarbas Aryel Silveira, do Departamento de Engenharia de Teleinformática da UFC, em conjunto com o Prof. Mário Wilson Pereira, do IFCE.
Fonte: Profª Karina Matthes de Freitas Pontes, do Programa de Pós-Graduação em Odontologia da UFC – e-mail: karinapontes@ufc.br
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