Você talvez já tenha visto, em uma ida à feira ou ao supermercado, uma fruta de aparência curiosa, com casca rosa e escamosa. Trata-se da pitaia, originária de florestas tropicais do continente americano (principalmente da região que vai do México à Colômbia e Venezuela), muito famosa na Ásia, mas ainda novidade na mesa dos brasileiros.
Por ser recente no Brasil, dúvidas sobre como a flor da pitaia é polinizada surgiram no Núcleo de Estudos em Fruticultura e no Laboratório de Abelhas, da Universidade Federal do Ceará. No México, local de origem da pitaia, a polinização é feita por morcegos, já que é durante a noite que a flor se abre. Mas no Ceará, onde não há visita desses animais nas plantações, pesquisadores descobriram a importância das abelhas e mariposas nesse trabalho.
Como a flor normalmente abre às 19 horas, fechando 12 horas depois (às vezes mais tarde em dias nublados), a tese era a de que a polinização era feita por espécies visitantes nas primeiras horas da manhã, especialmente pela abelha Apis mellifera (chamada abelha africanizada).
Essa abelha teve influência direta em boa parte do que os especialistas chamam “vingamento dos frutos” e até mesmo no tamanho e peso deles em uma das espécies da planta.
Tanto a pitaia de miolo branco quanto a de miolo vermelho (ambas com flores capazes de receber o próprio pólen) foram estudadas, em uma plantação em Quixeré, no interior cearense, com o apoio da empresa Frutacor.
No caso da flor da pitaia branca, era possível a autopolinização (quando a planta consegue transferir o pólen para seu ovário sem a ajuda de outros agentes), sem reduzir a quantidade de sementes que vingam. Mariposas ou abelhas, no entanto, mostraram-se fundamentais para produzir frutas grandes e mais pesadas.
No caso da flor da vermelha, entretanto, a introdução das abelhas foi importante em todos os aspectos para a qualidade na colheita. Sem elas, menos da metade dos frutos foi gerada, e aqueles que resultaram de uma autopolinização efetiva nasceram pequenos. Por isso a necessidade de polinizadores como a Apis.
Uma característica importante da flor da pitaia, cuja planta é uma cactácea, consiste em seu tamanho grande, o que também explicaria a polinização pelos morcegos nos hábitats originários. Já no caso das abelhas, a quantidade de animais visitantes é que faz a diferença.
“A Apis é pequena para aquele tamanho de flor, mas visita em grandes quantidades. As abelhas mexendo e andando transferem o pólen”, explica o Prof. Breno Freitas, orientador da pesquisa.
METODOLOGIA
Os pesquisadores acompanharam cinco ciclos de florescimento das pitaias, com duração de 14 dias cada um. As plantas foram avaliadas em quatro situações: ensacadas e protegidas dos animais (ficando dependente da autopolinização); ensacadas antes da abertura das flores até o período da manhã, para permitir apenas visitantes diurnos; ensacadas durante a manhã, permitindo visitantes noturnos; e livres o tempo inteiro.
Foi justamente nos casos em que a pitaia vermelha estava protegida dos visitantes diurnos que houve o baixo vingamento dos frutos. Já a branca, quando estava livre ou dependia apenas dos animais noturnos (como as mariposas), tinha alta produtividade de frutos em tamanho grande.
Os pesquisadores voltarão aos produtores para fornecer essas informações e auxiliar na criação de práticas que favoreçam a presença das espécies animais certas na área. “São práticas amigáveis ao polinizador. Não é preciso criar o inseto, mas ajustar as atividades de produção para aumentar a incidência dele”, opina o Prof. Breno.
Ao contrário das abelhas, as mariposas têm potencial de virar pragas para outras plantas, por conta de sua larva, que é uma lagarta. Elas podem ser prejudiciais se não forem espécies nativas dos arredores e começarem a usar a plantação para pôr ovos. “Se elas puderem virar pragas, estimula-se a presença de abelhas. Se elas forem visitantes nativas, podemos criar práticas que favoreçam a permanência da mariposa”, explica.
A ideia, com isso, é aumentar a produtividade da fruta, que ainda não tem um modelo agricultural bem definido para o Brasil. “Os custos serão praticamente os mesmos, mas os frutos e a lucratividade serão maiores. O importante é o produtor saber que a planta responde ao polinizador e que ele pode tentar aumentar a produtividade a partir disso”, diz o professor.
A PITAIA
Também conhecida como fruta do dragão, pela aparência escamosa, a pitaia possui sabor doce e suave, lembrando o do kiwi. É uma boa fonte de vitaminas, carboidratos e minerais, com alto teor de potássio, além de guardar poder antioxidante e de ter ação laxante. Ela também pode ser uma aliada na prevenção de doenças cardiovasculares, envelhecimento precoce e diabetes.
Como ainda não possui um sistema produtivo muito bem definido e adequado às condições brasileiras, a fruta é cara, com o preço do quilo variando entre R$ 15,00 e R$ 80,00, a depender da época do ano e da região do Brasil. Para que isso mude, o coordenador do Núcleo de Estudos em Fruticultura, Prof. Márcio Corrêa, entende que é preciso haver também uma mudança de práticas. “Muitas pessoas relacionam a planta com alimento de animal. Precisamos de uma divulgação maior nesse sentido”, opina.
Sendo uma cactácea, a planta da pitaia tem um potencial de produção grande, mas ainda inexplorado, para regiões como o Nordeste. “Ela é muito eficiente no uso da água, consumindo até 10 vezes menos água do que outras culturas frutíferas, como banana, milho e feijão”, diz o Prof. Márcio, que vê na pitaia uma alternativa para o sertão diante da convivência com a seca.
Fonte: Prof. Breno Freitas, coordenador da pesquisa – fone: 3366-9168