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Novo protocolo de uso do capacete Elmo pode aumentar taxa de sucesso no tratamento de pacientes com covid-19, indica pesquisa da UFC

Estudo analisou 180 pacientes internados em Fortaleza e mais de 70% deles não precisaram ser intubados após o uso do Elmo associado à sedação leve

Um estudo desenvolvido por pesquisadores da Faculdade de Medicina (FAMED) da Universidade Federal do Ceará (UFC) apresentou novas práticas no uso do capacete Elmo que podem reduzir os índices de intubação de pessoas internadas com Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo (SDRA) associada à covid-19. Destaque na edição 5/2024 do periódico da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, o procedimento apresentou uma taxa de sucesso (não intubação) de mais de 70% – a mais alta até então descrita com o uso do equipamento – a partir da adoção de um protocolo de sedação leve do paciente.

Essa é a primeira pesquisa a usar rotineiramente sedação leve com o Elmo em todos os pacientes, explica a pneumologista Isabella Matos, autora principal do trabalho. “Hipotetizamos que a utilização de sedação leve com dexmedetomidina aumentaria a tolerância do paciente ao uso mais prolongado do Elmo. Na nossa população do estudo, verificamos que a taxa de sucesso (pacientes não intubados) foi maior naqueles que fizeram uso de mais de 24 horas do Elmo na primeira sessão.”

Ainda segundo o trabalho, a escolha terapêutica de administração dos sedativos tanto por via oral quanto por intravenosa se deu pela percepção de quadros comuns de ansiedade em pacientes com covid-19, que impactam no aumento da frequência respiratória e tolerância do paciente à terapia com o Elmo.

RESULTADOS

O artigo científico é fruto de um experimento realizado ainda na pandemia, no período de setembro de 2021 a fevereiro de 2022. A amostra foi composta por 180 pacientes, sendo 116 homens e 64 mulheres, internados na enfermaria de pneumologia do Hospital de Messejana Dr. Carlos Alberto Studart Gomes. Todos os enfermos possuíam mais de 18 anos, apresentavam diagnóstico positivo para covid-19 e necessitavam de terapia de suporte respiratório não invasiva.

Essa é a primeira pesquisa a usar rotineiramente sedação leve com o Elmo em todos os pacientes, explica a pneumologista Isabella Matos, autora principal do trabalho (Foto: Ribamar Neto / UFC Informa)

Dos 180 pacientes que integraram o estudo, 72,8% (131) não precisaram de intubação após o uso do Elmo associado à sedação e, desses, 4 morreram. Já os que precisaram ser intubados somaram 27,2% (49), sendo que 30 morreram. A taxa geral de mortalidade hospitalar entre os não intubados foi, portanto, de 3% e já entre os intubados foi de 61,2%.

Os fatores relacionados à morte dos pacientes foram, segundo a pesquisa, necessidade de intubação e idade acima dos 60 anos. A idade avançada representou um risco de mortalidade de 2,8 vezes maior em pacientes não intubados; já entre os intubados, o risco de morte nessa população foi 13 vezes maior. A taxa geral de mortalidade hospitalar da amostra foi de 18,9%, e quase todas as mortes ocorreram no grupo de intubação.

Todos os internados na enfermaria respiratória que fizeram parte do estudo tiveram monitorados os seus sinais vitais, como oximetria (quantidade de oxigênio no sangue) e pressão arterial, e foram acompanhados por médicos e terapeutas respiratórios. Os dados da pesquisa foram extraídos de prontuários eletrônicos, mantendo-se a identidade dos pacientes em sigilo.

Integrante do Laboratório de Respiração da UFC (RespLab), Isabella Matos aponta que o estudo abre boas perspectivas sobre terapias com uso do Elmo em cenários de emergências de saúde pública, principalmente em comunidades ou países de baixa renda. “Além disso, preditores relacionados ao paciente, extensão da doença, tolerância e resposta ao uso do Elmo podem ajudar a identificar pacientes que precisam de mais atenção e reconhecimento precoce da falha, evitando intubações tardias e possíveis aumentos na mortalidade”, afirma.

Assinam ainda o artigo os pesquisadores Betina Tomaz, Maria da Penha Sales, Gabriela Gomes, Antônio Brasil Viana Júnior, Miguel Gonçalves, Eanes Pereira e Marcelo Alcântara, idealizador do capacete Elmo. A íntegra do artigo está disponível no site do Jornal Brasileiro de Pneumologia.

TECNOLOGIA CEARENSE

O equipamento de respiração assistida Elmo é uma tecnologia cearense desenvolvida por meio de parceria entre a UFC e outras instituições cearenses durante a pandemia de covid-19. Foi usado em mais de 40 mil pessoas em todo o país naquele período, no tratamento de pacientes com quadro leve ou moderado de covid-19. Entre as premiações que recebeu, estão a Medalha da Abolição e o Prêmio Nacional de Inovação da Indústria, em 2022, além do Prêmio Euro de Inovação na Saúde, em 2023.

Fonte: Isabella Matos, pneumologista, mestra em Ciências Médicas pela UFC, preceptora no Programa de Residência em Pneumologia e Medicina do Sono do HUWC e integrante do RespLab da UFC – e-mail: bellamatos@gmail.com

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Cristiane Pimentel 22 de janeiro de 2025