Agência UFC

Tecnologia

Laboratório viabiliza novas aplicações de cinzas de carvão

Cinzas, que já eram utilizadas na indústria do cimento, passam a ser aproveitadas também em blocos para a construção e para pavimentação

Por Lucas Casimiro

Especial para a Agência UFC

Cinzas de carvão mineral produzidas por usinas termelétricas cearenses passaram a ter nova aplicação na indústria. Antes poluidoras ambientais, agora elas são utilizadas em diversos produtos no ramo da pavimentação e construção civil.

O reaproveitamento do material foi viabilizado por pesquisa conduzida pelo Laboratório de Mecânica dos Pavimentos da Universidade Federal do Ceará (LMP-UFC), coordenado pelo Prof. Jorge Soares, em convênio assinado com as empresas Eneva e Energia Pecém-Grupo EDP, ambas localizadas no Complexo Industrial e Portuário do Pecém.

Até então, esse mesmo material já vinha sendo utilizado na indústria do cimento. Com os estudos, ele passa a ter novas possibilidades tanto na construção civil como na pavimentação. O caso mais recente foi sua aplicação à massa que forma os blocos de concreto utilizados na construção das paredes, à massa do meio-fio e ao calçamento externo da nova unidade administrativa da Usina Termelétrica do Pecém (UTE-Pecém), de responsabilidade do Grupo EDP, inaugurada em outubro deste ano.

 

Cinza ao lado de um bloco compactado, em prmieiro plano (Foto: Ribamar Neto/UFC)

Reutilização do material possibilita geração de receita e redução de impactos ambientais (Foto: Ribamar Neto/UFC)

Os novos blocos de concreto foram compostos por 95% de insumo tradicional e 5% de cinza, quantidade máxima permitida pela legislação ambiental regulamentadora. Segundo a empresa, foram utilizadas aproximadamente 60 toneladas de cinzas na construção da nova unidade.

A pesquisa abre novas perspectivas para o uso desse resíduo no Estado. Atualmente, como explica o Prof. Jorge Soares, as usinas da UTE-Pecém e Pecém II já acumulam 360 mil toneladas de cinzas desse tipo. Para evitar danos ao meio ambiente, elas são misturadas com aditivos químicos, como a cal, em módulos apropriados e devidamente isolados para o depósito do insumo. Hoje, já formam pilhas com 7 metros de altura.

Contudo, a produção diária, que pode chegar a quase 1.000 toneladas do resíduo, demanda das termelétricas novos espaços de estocagem e gera despesas para sua manutenção, o que levou as empresas a investir em pesquisas para resolver o problema.

A reutilização desse material possibilita a transformação de resíduo em insumo, a geração de receita com a comercialização das cinzas e a redução de impactos ambientais em decorrência da substituição de recursos naturais por resíduos na indústria. Sua aplicação pode ser feita em camadas de pavimentos, aterros estruturais, blocos de cinza e cal, cerâmicas, materiais para impermeabilização de bacias de contenção, remediação de solos, dentre outras.

Material obtido a partir das cinzas (Foto: Ribamar Neto)

Material obtido a partir das cinzas (Foto: Ribamar Neto)

De acordo com o Prof. Jorge Soares, as cinzas são utilizadas em maior quantidade na pavimentação, mais especificamente nas subcamadas dos pavimentos. Os estudos recentes já possibilitam a aplicação meio a meio de cinza à subcamada de solo, localizada imediatamente abaixo do revestimento asfáltico, “sem causar qualquer problema estrutural ou ambiental”.

As cinzas ganharam utilidade quando as cimenteiras passaram a usá-las como matéria-prima na produção de cimento. A exemplo da cimenteira Apodi, que adquire mensalmente o insumo para produção de um tipo especial de cimento, composto por 90% de cinzas e 10% de cimento, em sua fábrica em Quixeré.

Entretanto, dependendo do tipo de carvão empregado na queima de combustível fóssil, ainda é necessária a utilização de cal nas cinzas leves para realizar o controle de emissão de enxofre. Como a indústria cimenteira somente reaproveita as cinzas com teor de cal inferior a 0,8%, o uso de cinzas com maior teor de cal é estudada pelo projeto de pesquisa e desenvolvimento do LMP.

Fonte: Prof. Jorge Soares, coordenador do Laboratório de Mecânica dos Pavimentos da UFC – fone: 85 3366 9488

Agência UFC 31 de outubro de 2017

Assuntos relacionados

Close em um caju vermelho, pendurado no galho, com um fundo verde de folhas em segundo plano (Foto: Banco de Imagens Pixabay) Pesquisadores estudam como produzir etanol a partir do caju

Pesquisadores da UFC estudam maneiras de explorar todo o potencial subaproveitado do caju, do suco ao bagaço

Pesquisador de costas, sentado na mesa de trabalho e usando o computador, que contém um mapa hídrico (Foto: Ribamar Neto/UFC) Sensores podem ajudar a diminuir perda de água no Ceará

Pesquisa do GTEL sugere que pequenos sensores sejam utilizados na rede hídrica do Estado para medir volume e qualidade da água

Mão teclando em um painel de carro com realidade aumentada Pesquisa da UFC em parceria com instituição francesa propõe solução que acelera execução de tarefas em carros do futuro

Método que torna processamento até 70% mais rápido foi descrito em artigo publicado no Vehicular Communications, um dos cinco periódicos mais relevantes do mundo na área de engenharia automotiva