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Saúde

Estudo aponta qualidade do sono prejudicada entre fisioterapeutas durante pandemia

Pesquisa da UFC constatou prevalência de 86% de sono comprometido entre os fisioterapeutas; desgaste é pior para profissionais da linha de frente

Uma das consequências da pandemia de covid-19 tem sido um maior desgaste mental na população, seja pelo medo de contrair a doença e pela preocupação com entes queridos, seja pelas medidas de isolamento necessárias. Entre os profissionais de saúde, sobretudo os que trabalham na linha de frente de combate à pandemia, essas consequências se tornam ainda mais evidentes.

Essenciais na recuperação de pacientes acometidos pelo vírus, que pode deixar sequelas físicas, os profissionais de fisioterapia estão entre os grupos que podem sofrer com esse desgaste mental, como constata pesquisa orientada por docentes do Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia e Funcionalidade da Universidade Federal do Ceará.

O estudo, publicado na Physiotherapy Theory and Practice, avalia a qualidade do sono dos fisioterapeutas no cenário pandêmico e a prevalência de sintomas de ansiedade e estresse. A constatação foi de alta ocorrência de comprometimento da qualidade do sono, percebida em 86% dos profissionais entrevistados.

“A pior qualidade do sono e os sintomas de ansiedade e estresse podem também comprometer a qualidade do cuidado prestado aos pacientes”

Na comparação com profissionais da linha de frente, viu-se que estes apresentavam maior deficiência na qualidade, na duração e na eficiência do sono, além de usarem medicamentos para dormir com maior frequência. Outra constatação para esse grupo foi uma maior prevalência de sintomas como ansiedade e estresse.

Consequência direta desses problemas é não apenas um prejuízo à saúde, como também um possível comprometimento da atuação do trabalhador. “A pior qualidade do sono e os sintomas de ansiedade e estresse podem também comprometer a qualidade do cuidado prestado aos pacientes assistidos por esses fisioterapeutas”, acredita o Prof. Rafael Mesquita, do Departamento de Fisioterapia, um dos orientadores do estudo.

Outro dado importante trazido pela pesquisa foi a frequência de maiores medos vivenciados pelos terapeutas de linha de frente entrevistados. Os três mais frequentes foram o medo de ser infectado pelo vírus da covid-19 (48%), a escassez de equipamentos de proteção individual (24%) e a severidade da doença (16%).

“A pior qualidade do sono e os sintomas de ansiedade e estresse podem deixar esses profissionais mais ‘desatentos’ quanto aos cuidados para prevenir sua infecção pelo vírus da covid-19, e isso é relevante principalmente se considerarmos que o maior medo relatado pelos fisioterapeutas que estão na linha de frente foi o medo de ser contaminado pelo vírus”, comenta o Prof. Rafael Mesquita.

TRATAMENTOS ESSENCIAIS

Dados como os apresentados por essa pesquisa são relevantes, tendo em vista a importância dos profissionais de fisioterapia durante a pandemia de covid-19. Isso porque atuam em muitos casos na reabilitação de sobreviventes da doença que, apesar de recuperados da carga viral, guardam sequelas físicas deixadas pelo tratamento por vezes invasivo que a doença requer.

“A fisioterapia já possui atuação bem estabelecida com paciente hospitalar no Brasil e nas maiores nações do mundo”, aponta o Prof. Rafael Mesquita. “Sua atuação [do fisioterapeuta] é voltada tanto ao paciente menos grave internado em leitos de enfermaria quanto ao paciente mais grave internado em leito de terapia intensiva. O fisioterapeuta tem como objetivo principal a recuperação físico-funcional do paciente.”

“Os fisioterapeutas atuam também no manejo do ventilador mecânico naqueles pacientes que necessitam de suporte ventilatório. Durante a pandemia, [a fisioterapia] foi fundamental, uma vez que um dos principais sinais e sintomas da covid-19 é a insuficiência respiratória, sendo o suporte ventilatório uma das principais estratégias de tratamento, e a grande maioria desses pacientes apresentava problemas físico-funcionais durante e após a internação”, diz o pesquisador.

PESQUISA

Para chegar aos dados, os pesquisadores aplicaram, durante três semanas, questionários com o total de 342 fisioterapeutas. Dois questionários foram usados: o Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh (PSQI) e a Escala de Depressão, Ansiedade e Estresse (DASS-21).

“Sugerimos intervenções psicológicas para o enfrentamento de problemas e preocupações”

O primeiro inclui 19 itens, agrupados em sete componentes relacionados ao sono: qualidade subjetiva, latência, duração, eficiência, distúrbios, disfunção diurna e medicação. Já o segundo trabalha com 21 itens, agrupados em três dimensões: depressão, ansiedade e estresse.

Para o Prof. Rafael Mesquita, os achados representam uma necessidade de apoio aos profissionais da área no quesito saúde mental, considerada a importância do papel que executam não apenas no cenário pandêmico. Esse apoio poderia vir na forma de intervenções no exercício da profissão.

“Sugerimos intervenções psicológicas para o enfrentamento de problemas e preocupações; educação continuada para o treino no uso de medidas de segurança durante o atendimento ao paciente, minimizando o risco e o medo de contaminação; garantia de intervalos de descanso entre os turnos; e reforço aos hábitos de higiene do sono, como manter uma rotina de sono estável e tornar o quarto confortável e o sono livre de interrupções”, aponta.

SAIBA MAIS

O artigo publicado na Physiotherapy Theory and Practice foi elaborado com orientação do Prof. Rafael Mesquita e da Profª Daniela Mont’Alverne, ambos do Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia e Funcionalidade, em coautoria com os pesquisadores Juliana Lino, Luzia Gabriela Frota, Ana Paula Abdon e Vinicius Cavalheri.

Leia o artigo completo (em inglês).

Fonte: Prof. Rafael Mesquita, do Departamento de Fisioterapia da UFC – e-mail: rafaelmesquita@ufc.br

Kevin Alencar 14 de setembro de 2021

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