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Compostos com metais essenciais ao organismo são alternativas promissoras no tratamento do câncer

Com menor custo de produção, os complexos à base de cobre ou zinco apresentaram maior eficácia e menos efeitos colaterais em testes in vitro do que outros fármacos. O princípio ativo foi patenteado à UFC, UFRN e USP.

O emprego de metais essenciais ao corpo humano em compostos de coordenação tem se revelado uma promissora alternativa na produção de medicamentos para tratamento de câncer. Um desses novos complexos, que pode utilizar cobre ou zinco e ligantes orgânicos com atividade antitumoral, teve sua patente concedida, pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), à Universidade Federal do Ceará (UFC), junto com a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

A invenção, resultado de pesquisa conduzida nas três instituições, é baseada na síntese de complexos formados por um centro metálico de zinco ou cobre, contendo um ligante diimina e dois ligantes vaniloides modificados quimicamente ou não. Combinadas, essas características fazem com que, a menor custo, sua ação seja mais eficaz e com menos efeitos colaterais do que compostos à base de platina – utilizados desde a década de 1970 e presentes até hoje em cerca de 50% de todo tratamento contra o câncer feito no mundo.

Embora ainda muito usados e eficientes para alguns tipos de câncer, os compostos à base de platina apresentam limitações. Devido a sua baixa seletividade, entram na mira dos medicamentos tanto as células cancerígenas quanto as saudáveis, o que pode ocasionar uma nova mutação celular e diversos efeitos colaterais adversos, como danos aos rins, no caso da cisplatina. Além disso, estão associados à reincidência de tumores anos após o primeiro tratamento.

Já em compostos utilizando zinco e cobre, os testes in vitro indicaram maior eficácia e menos efeitos adversos porque o arcabouço enzimático existente na célula já está habituado a atuar na presença desses metais essenciais ao organismo. Já os ligantes orgânicos que os rodeiam, além de contribuírem na estabilidade do composto, apresentam atividade antitumoral. A vanilina, por exemplo, é um vaniloide reconhecido como composto bioativo, com atividade antioxidante, antimutagênica, anti-inflamatória e potencial efeito de proteção contra o câncer.

MECANISMO DE AÇÃO

A principal contribuição da UFC na pesquisa foi a elucidação das propriedades do complexo e suas potencialidades biológicas, fundamental para a compreensão de seu mecanismo de ação antitumoral. “Mostramos que esse composto tem uma promissora capacidade de danificar o DNA, estratégia essa empregada em certos medicamentos anticâncer”, conta Eduardo Henrique Silva de Sousa, docente do Departamento de Química Orgânica e Inorgânica da UFC e membro da equipe de pesquisadores.

Fotografia do prof. Eduardo Sousa e do pesquisador Edinilton Muniz
Na UFC, os pesquisadores Eduardo de Sousa (à direita) e Edinilton Carvalho trabalharam na elucidação das propriedades do complexo e suas potencialidades (Foto: Guilherme Silva/UFC)

Edinilton Muniz Carvalho, que participou da pesquisa como aluno de mestrado e doutorado do Programa de Pós-Graduação em Química da UFC, detalha o diferencial do mecanismo de ação, se comparado ao composto de cisplatina: “A cisplatina se liga à fita de DNA (da célula cancerosa) e impede sua replicação. Já o nosso composto quebra o DNA, então o danifica. Essa danificação é responsável por inibir essa replicação e, supõe-se, leva à apoptose, que é a morte da própria célula”.

Também integrante da equipe, Daniel de Lima Pontes, egresso da UFC e atualmente professor do Instituto de Química da UFRN, explica que a tecnologia foi elaborada unindo as propriedades do cobre ou do zinco com espécies orgânicas específicas, de modo que elas atuem sinergicamente para obtenção das propriedades químicas e biológicas observadas. “Algumas das moléculas desenvolvidas se mostraram fortemente citotóxicas frente a diferentes linhagens celulares tumorais”, completa.

O professor Daniel de Lima Pontes destaca que os complexos com zinco ou cobre como princípio ativo têm efeito citotóxico em células tumorais mesmo em concentrações muito baixas, o que também contribui para redução de potenciais efeitos colaterais. Outra vantagem seria o custo inferior, uma vez que são compostos estruturalmente simples, acessíveis para escalonamento de produção em larga escala e que necessitam de reagentes mais baratos na produção.

Para que chegue ao alcance do consumidor final, o uso de compostos de cobre ou zinco como princípio ativo ainda precisa ser testado em animais, inicialmente, como etapa de ensaios pré-clínicos. De acordo com o professor Eduardo Henrique Silva de Sousa, os estudos e a patente concedida mostram que há potencial para o avanço da tecnologia e sua chegada ao mercado. “Entretanto, se faz necessário, não somente o apoio financeiro, mas a conexão com outras equipes”, pontua.

Fontes: Eduardo Henrique Silva de Sousa, professor do Departamento de Química Orgânica e Inorgânica da UFC – eduardohss@dqoi.ufc.br / Daniel de Lima Pontes, professor do Instituto de Química da UFRN – daniel.pontes@ufrn.br

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Mônica Lucas 8 de janeiro de 2025

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