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Sociedade e Cultura

A moda como meio de inclusão social no bairro Bom Jardim

Curso Colcha de Retalhos promove oficinas de confecção para as moradoras do bairro; material que seria descartado é reaproveitado

Moradoras do bairro Bom Jardim estão produzindo moda com um diferencial: o reaproveitamento de retalhos. O curso Colcha de Retalhos, desenvolvido em parceria com a Universidade Federal do Ceará, ministra oficinas de produção de peças em tecido para mulheres em situação de vulnerabilidade socioeconômica da região. São confeccionadas, entre outras peças, almofadas, lençóis, bolsas e roupas. O objetivo é proporcionar às participantes uma oportunidade de capacitação e, posteriormente, trabalho e geração de renda. 

A ação nasceu da percepção da importância de geração de renda na quebra de barreiras sociais. Para Janaína Fernandes, do Conselho Regional de Administração (CRA-CE) e gestora do curso, um dos fatores que mantêm mulheres em situações desfavoráveis é a dependência financeira. 

“Era necessário trabalhar algo que proporcionasse às mulheres um acesso real dentro da sua condição. Então surgiram os resíduos, que possibilitaram unir o reaproveitamento e a geração de emprego”, afirma a administradora. 

Para Vilenilza Calado, que atua como coordenadora social do curso, o Colcha de Retalhos é a realização de um sonho compartilhado. “O Colcha é um sonho que eu tenho há 11 anos. Janaína e eu nos conhecemos há um ano e ela tinha o mesmo sonho. Nós duas somos da Rede de Mulheres Solidárias, e a partir daí começamos a pensar juntas o projeto Colcha de Retalhos”, diz Vilenilza.

Desenho de mulheres utilizando representações de roupas e acessórios desenvolvidos no projeto (Foto: Luana Oliveira/PREX-UFC)
As participantes realizam todas as etapas da produção, incluindo o desenho dos produtos (Foto: Luana Oliveira/PREX-UFC)

A proposta é reutilizar o material que seria descartado em produtos que possam ser comercializados pela própria comunidade, transformando as mulheres em empreendedoras sustentáveis de base comunitária. Elas, geralmente, já têm prática na área, mas sentem a necessidade do conhecimento teórico. 

É o caso de Mirian Santana, que, mesmo já tendo habilidade com costura, participa da iniciativa. “Dentro do curso tive a oportunidade de aprender e, além disso, conhecer talentos em mim que eu não conhecia, como o desenho”, conta a microempreendedora. 

As atividades acontecem no Centro de Referência do Empreendedor, equipamento da Prefeitura Municipal de Fortaleza. A parceria do projeto com o órgão municipal surgiu após uma pesquisa para verificar a quantidade e os tipos de empreendedores da região, o que evidenciou a aptidão do bairro para a área de confecção. 

PARCERIAS

“Nós cedemos o local, mas ‒ muito mais importante do que isso ‒ fizemos a união do setor público, setor privado e instituição de ensino, no caso a UFC. Isso é a chave, pois, com os três atuando juntos, possibilitamos oportunidades”, afirma Mosiah Torgan, secretário do Desenvolvimento Econômico de Fortaleza. Além dessa parceria, a iniciativa tem o apoio institucional do Conselho Regional de Administração (CRA/CE). 

As oficinas são mediadas pela Profª Eveline de Azevedo e pelo estudante Fabrício Batista, ambos do Curso de Design-Moda da UFC. Na sala de aula, as participantes aprendem a base teórica e põem em prática o que foi ensinado. Para Fabrício, nas ações, todos os que participam e colaboram são beneficiados. 

Três bolsas produzidas com retalho expostas sobre uma mesa (Foto: Luana Oliveira/PREX-UFC)
São produzidas, entre outras peças, almofadas, lençóis, bolsas e roupas, todas com base no reaproveitamento de retalhos (Foto: Luana Oliveira/PREX-UFC)

“Acho que o projeto representa bem o que é extensão, pois trabalha tanto para mim  ‒ como estudante em formação para o mercado de trabalho e percepção do valor social ‒ quanto para essas pessoas na quebra de barreiras sociais existentes”, relata o universitário. 

Além do ensino, a ação é uma oportunidade de socialização. Durante o semestre de oficinas, as participantes criam laços umas com as outras e com os professores. “Aqui você vai conhecendo a história de cada uma, se envolvendo, fazendo amizade, e é muito reconfortante. Às vezes você vem com um problema, chega aqui e passa”, afirma Jucicleide da Silva, uma das beneficiadas da comunidade. No início de outubro, o curso recebeu a visita da Pró-Reitora de Extensão da UFC, Profª Elizabeth Daher.

Os resíduos usados vêm de doações de instituições públicas e privadas. A empresa Pena é uma das parceiras e disponibiliza tecidos que sobram da fábrica de confecção. Brígida Frazão, uma das idealizadoras da empresa, revela a satisfação em colaborar com as ações. “Para esse trabalho com resíduos, [a Pena] tem uma quantidade grande de malhas e tecidos estampados sobrando. É muito gratificante poder contribuir”, conta a empresária. 

MODA INCLUSIVA

O Colcha de Retalhos faz parte do projeto de extensão Moda Inclusiva Ceará ‒ inserir para o melhor bem-estar.  Coordenado pela professora do Curso de Design-Moda da UFC, Araguacy Filgueiras, o projeto envolve ações que buscam melhorar, por meio da moda, a qualidade de vida de pessoas em situação de vulnerabilidade, seja social, seja econômica. Além do Colcha de Retalhos, o Moda Inclusiva realiza, dentre outras ações, o Vestir com Emoção, no qual estudantes do Curso de Design-Moda desenvolvem peças de roupa para idosos atendidos pelo Lar Torres de Melo. 

Almofadas, bolsas e outros produtos produzidos no curso, expostos sobre uma mesa (Foto: Luana Oliveira/PREX-UFC)
A proposta é converter o material que seria descartado em produtos que possam ser comercializados pela própria comunidade (Foto: Luana Oliveira/PREX-UFC)

Para a Profª Araguacy Filgueiras, coordenadora do projeto Moda Inclusiva, o Colcha de Retalhos também desperta nas participantes o sentimento de responsabilidade ambiental, uma vez que, através do trabalho desenvolvido por elas, os retalhos que seriam descartados em lixões passam a ter valor agregado.

Além disso, a professora enfatiza o papel social da moda como meio de inclusão. “Participar desse projeto causa muita satisfação porque, por si só, a moda é muito excludente, mas nós, que trabalhamos com moda, podemos desenvolver atividades que incluam as pessoas, tanto em qualificação quanto no desenvolvimento de produto, em artigos tais que elas se sintam sujeitos e autoras dos seus próprios trabalhos”, afirma a coordenadora

SERVIÇO

Os cursos têm duração de um semestre. Para participar, a interessada deve entrar em contato com o Colcha de Retalhos para fornecer os dados. 
Endereço: Centro de Referência do Empreendedor ‒ Av. Oscar Araripe, 1030, Bom Jardim, Fortaleza-CE, CEP: 60543-452
Contato: colchaderetalhosprojeto@gmail.com 

Ely Eulle Viana, sob supervisão de Narjara Pires

Fonte: Profª Araguacy Filgueiras, coordenadora do projeto Moda Inclusiva ‒ Inserir para o Melhor Bem-Estar ‒ e-mail: aradesign@uol.com.br

Agência UFC 31 de outubro de 2019

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