A baixa disponibilidade de alimentos para os animais é uma das dificuldades pelas quais passa a atividade pecuária no semiárido nos períodos de estiagem. Uma das possibilidades para contornar o problema é a compra de forragem de outros locais, o que, por sua vez, gera outro contratempo: em longas viagens, o transporte prejudica a qualidade do alimento por conta da fermentação natural, o qual acaba por ser desperdiçado.
Com uma nova invenção patenteada pela Universidade Federal do Ceará, essa perda causada pelo transporte pode ser evitada. Trata-se de uma caçamba hermeticamente selada, com um sistema de acondicionamento capaz de realizar processo de silagem, método que permite o armazenamento prolongado da forragem.
A ideia é que a caçamba sirva como um silo rígido, garantindo a manutenção da qualidade do alimento e de suas qualidades nutricionais, desde o produtor da forragem até o mercado consumidor de produtos forrageiros, ou seja, o criador de gado que sofre com a falta do alimento pecuário no semiárido.
“O material pode ser colhido, acondicionado na caçamba hermética e então transportado para alguma região distante da origem da forragem”, explica o Prof. Daniel Albiero, docente do Centro de Ciências Agrárias da UFC à época da criação do invento e um dos autores responsáveis pela patente.
A silagem, ou ensilagem, é um processo que, para evitar a perda nutricional completa do alimento forrado, utiliza a chamada fermentação controlada. Alguns dos alimentos que costumam ser armazenados com silagem são o milho e o capim.
Com o processo, os alimentos ficam acondicionados, tal como se fossem “enlatados”. Então, em condições favoráveis, por conta do ambiente controlado, a produção de microrganismo que poderiam deteriorar a forragem é paralisada.
No caso da caçamba patenteada pela UFC, o processo é o mesmo, mas a silagem nesse caso ocorreria durante o transporte, o que traz fator de ineditismo à invenção. “Hoje (na indústria) não existem caçambas para transporte de forragem que sejam herméticas, portanto, nenhum sistema atual tem os pré-requisitos técnicos necessários para iniciar os processos bioquímicos intrínsecos”, diz o Prof. Albiero.
O pesquisador também prevê que a caçamba possa gerar interesse industrial, uma vez que possui grande apelo comercial, sobretudo para produtores de carne e leite do Ceará. “Todos os elementos e sistemas da caçamba hermética estão ao alcance da indústria cearense produzir, desde a estrutura do chassi em aço, até o molde em materiais poliméricos”, afirma.
O pedido de depósito da carta patente para a caçamba hermética foi feito em 2017, com concessão expedida no final do ano passado pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).
CONTAGEM DE FRUTOS
Outra carta patente também recém-adquirida pelo Centro de Ciências Agrárias da UFC busca facilitar o dia a dia de produtores que trabalham com a cultura de frutos esféricos, como o coco. A patente trata de uma máquina com sensores fotoelétricos que realiza o trabalho de contagem dos frutos.
A ideia é automatizar essa contagem, reduzindo tempo gasto e evitando erros humanos e prejuízos financeiros, já que é na etapa de contagem que o produtor pode calcular seus potenciais ganhos.
O funcionamento da máquina, operada por um ser humano, é relativamente simples. Constituída por uma rampa sobre uma base de ferro, a máquina recebe os frutos, que deslizam e passam por um espaço similar a um funil, onde estão três sensores. Um por vez, os frutos passam pelos sensores, que enviam um pulso elétrico a um display, onde finalmente é mostrada a contagem.
Na expectativa desde 2014, quando foi feito o pedido de depósito, a patente foi concedida no final do ano passado pelo INPI. Com isso, o Departamento de Engenharia Agrícola da UFC alcança o número de 11 cartas patentes obtidas, dentro do total de 16 do Centro de Ciências Agrárias.
Fonte: Prof. Daniel Albiero ‒ e-mail: daniel.albiero@gmail.com