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Alternativas mais baratas de rações para camarão

Pesquisadores do Labomar produziram ração de origem vegetal, reduzindo custos para fabricantes do alimento e produtores

Produtores e pesquisadores do ramo da carcinicultura sabem que uma ração adequada para a criação de camarões pode fazer toda a diferença. O problema é que essa alimentação é uma das maiores despesas operacionais, podendo corresponder à faixa de 50% a 70% dos custos. Por isso, o Centro de Estudos Ambientais Costeiros (CEAC), do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do Ceará, tem trabalhado para criar alternativas de rações mais baratas com a mesma eficiência das convencionais.

Uma das recentes pesquisas do centro resultou em uma ração para camarões feita quase totalmente de ingredientes de origem vegetal encontrados no Brasil. O produto é menos custoso, tanto para o fabricante do alimento quanto para o criador que o compra, justamente por abrir mão da maior parte dos componentes de origem animal marinha, responsáveis por encarecê-lo.

Tanques azuis e fechados de carcinicultura em um ambiente aberto (Foto: Jr. Panela/UFC)

O CEAC dispõe de 304 tanques para a criação dos animais, dispostos em 6 sistemas de cultivo (Foto: Jr. Panela/UFC)

A produção de rações hoje é feita, em grande parte, com uso da farinha de peixe e de outros ingredientes oriundos da atividade pesqueira. Há, portanto, um paradoxo nessa lógica, já que se trata da captura de um peixe que, ao invés de ser utilizado para consumo humano, é empregado para produzir material destinado a alimentar outro animal, o que resulta no aumento de custos.

Segundo o Prof. Alberto Nunes, coordenador do Laboratório de Nutrição de Organismos Aquáticos (Lanoa), outro problema é que a produção da farinha de peixe tem sido incapaz de acompanhar o crescimento da aquicultura (cultivo de organismos aquáticos em ambientes controlados), responsável pela aquisição de cerca de 80% de toda a farinha produzida em nível global.

“Precisamos buscar soluções para esse problema, porque há uma dependência muito grande da carcinicultura (em relação àquele produto), que se dá pelo fato de o ingrediente advindo do peixe ter todos os nutrientes de que o camarão precisa”, explica Alberto Nunes.

A ração vegetariana surgiu da tese de doutorado de Hassan Sabry Neto, defendida em fevereiro de 2015 no Programa de Pós-Graduação em Ciências Marinhas Tropicais, no Labomar. O trabalho teve como título Valor nutricional de flocos microbianos e rações vegetais para o desempenho zootécnico do camarão-branco, Litopenaeus vannamei.

Mão segurando um punhado de ração para camarão, de cor marrom (Foto: Jr. Panela/UFC)

Cada ração serve um propósito diferente, a depender do objetivo de cada pesquisa (Foto: Jr. Panela/UFC)

Com eficiência semelhante à dos alimentos comumente utilizados pela indústria, a ração sem componentes de origem animal tem a vantagem de ser mais barata e contar com ingredientes que são subprodutos da soja – algo vantajoso para o Brasil, um dos maiores produtores de soja do mundo.

A diferença está na coloração da ração (mais branca) e na ausência de alguns nutrientes encontrados apenas em materiais de origem animal. Esse problema da deficiência nutricional, porém, também foi resolvido pelos pesquisadores, a partir da inclusão de aditivos que suprem essa falta e tornam o alimento mais palatável para o animal, sem representar acréscimo de custos por já serem utilizados na criação dos camarões.

LABORATÓRIO

O Lanoa, inserido no âmbito do CEAC, trabalha com a perspectiva de compreender as necessidades nutricionais do camarão para que ele tenha um melhor desenvolvimento. Para tanto, conta com 304 tanques, dispostos em 6 diferentes sistemas de cultivo, variando de 60 a 23 mil litros.

Esses sistemas de cultivo são divididos pelas necessidades de cada pesquisa, com critérios baseados no tipo de ração a ser produzida. “Se quisermos uma resposta no desempenho de crescimento dos camarões mais próxima da que se alcança em uma fazenda comercial, fazemos a pesquisa em área aberta. Se quisermos algo mais controlado, usamos o galpão interno, por exemplo”, explica o Prof. Alberto.

Professor Alberto Nunes sentado à mesa e segurando um equipamento para distribuição de ração (Foto: Jr. Panela/UFC)

Para facilitar o trabalho do Lanoa, coordenado pelo Prof. Alberto Nunes, um distribuidor de ração de baixo custo foi desenvolvido (Foto: Jr. Panela/UFC)

Os animais são adquiridos pelo laboratório ainda em estado de pós-larva e criados durante 50 dias, quando chegam ao tamanho “juvenil”. A partir daí, com o camarão pesando aproximadamente 1 grama, as pesquisas são iniciadas: eles são transferidos para os tanques e alimentados durante 10 semanas, para depois serem pesados e avaliados. É dessa forma que os pesquisadores conseguem diferenciar a atuação das rações, ingredientes e aditivos.

Hoje, o Lanoa é considerado uma referência nas Américas. “O Nordeste é uma região importante para criação de camarões, pois produzimos cerca de 60 mil toneladas por ano. Ainda que seja um número baixo quando comparado aos grandes produtores da Ásia, para o Brasil isso é importante, porque não precisamos importar camarão para atender à demanda interna”, ressalta Alberto.

Além da pesquisa com a ração de origem vegetal, o laboratório também tem estudos recentes sobre atrativos palatabilizantes (para melhorar o gosto da comida para o animal), uso de adubos vegetais para aumentar naturalmente a produção de alimentos na água, alimentação nas fases iniciais do camarão para induzir melhor desenvolvimento e produção em condições extremas de densidade populacional do animal.

Fonte: Prof. Alberto Nunes, coordenador do Lanoa – fone: 3229 8718 / e-mail: alberto.nunes@ufc.br

Kevin Alencar 12 de dezembro de 2017

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