Apesar das muitas tecnologias desenvolvidas no intuito de resolver o problema do agricultor familiar que sofre com a falta de água para realizar atividade irrigada, poucas soluções são levadas até ele: o conhecimento produzido nas universidades muitas vezes não vai até o campo. Tal problema tem chamado atenção do Grupo de Pesquisa em Engenharia de Água e Solo do Semiárido – GPEAS, do Departamento de Engenharia Agrícola da UFC.
A ideia do grupo é levar aos pequenos agricultores tecnologias que, apesar de simples, ainda não foram assimiladas totalmente no meio rural, como é o caso dos poços rasos tubulares, que utilizam águas de fontes subterrâneas oriundas do lençol freático. Tais poços são mais baratos, têm água de melhor qualidade, e possuem vazões superiores à maioria dos poços profundos, além de receberem recarga das chuvas com maior eficiência.
O trabalho do GPEAS é feito principalmente no Perímetro Irrigado Curu Pentecoste, no Vale do Curu, onde a UFC dispõe de uma fazenda experimental. Em precipitações do último mês de abril na região, por exemplo, apesar de o principal açude local não ter ganhado volume com a pluviosidade, a água, em alguns desses poços, chegou a subir até dois metros.
A doutoranda Renata Silveira, integrante do grupo e responsável pela pesquisa, explica que, dependendo do uso e da ocupação do solo da região, as águas também podem ter qualidade melhor que a de poços profundos, por estarem sempre sendo renovadas pela chuva e pela drenagem do próprio rio. Os poços profundos, por trabalharem com o subterrâneo, muitas vezes trazem água salobra.
Além disso, os profundos têm uma vazão média de 2 metros cúbicos por hora (cerca de 2 mil litros de água), número inferior ao dos poços rasos, com uma média de 35 mil litros, podendo chegar à vazão máxima de 60 mil litros. “Isso porque toda a água é de aquífero aluvionar, que fica na superfície. São poços feitos perto do rio, com muita areia, que despacha a água melhor”, explica.
O Prof. Nonato Távora, coordenador do GPEAS, lembra que, hoje, o uso desses poços é feito de forma indiscriminada, sem monitoramento. “Precisamos resgatar o acervo de poços já instalados no Estado e verificar como estão sendo usados. O gerenciamento e, portanto, o uso racional dessa fonte de água irá permitir que em épocas de crise se possa contar com uma maior reserva de água”, comenta o professor.
COBERTURA MORTA
Outra pesquisa do GPEAS está voltada para o uso de “cobertura morta” em áreas de irrigação para melhor aproveitamento da água. Com uma espécie de proteção do solo pela cobertura (feita de capim-elefante e bagana de carnaúba, preferencialmente), a evaporação é reduzida e há aumento na retenção da água, diminuindo a necessidade de irrigação constante em áreas com alta incidência solar como o Nordeste e ampliando a possibilidade de uso da terra para outras culturas.
A ideia de trabalhar com o agricultor permite a criação de um ambiente de construção do conhecimento e de capacitação continuada
Em trabalho desenvolvido na comunidade Cipó, o GPEAS avaliou a eficiência da cobertura em plantações de tomate e cereja. O principal resultado encontrado foi que, com a utilização da bagana de carnaúba, houve uma redução de aproximadamente 41% do uso de água, mantendo a mesma produtividade de um solo sem cobertura.
“Isso prova que a bagana, além de gerar economia do recurso hídrico, cria um ambiente favorável ao desenvolvimento da planta, com umidades do solo e temperatura adequadas”, diz Valsérgio Barros, mestrando responsável pelo estudo.
Um dos intuitos da pesquisa foi gerar informações que permitam uma melhor eficiência e a produtividade da água na região, cujas atividades agrícolas mais comuns são os cultivos do coqueiro e da bananeira, culturas com elevadas demandas de água. “Os agricultores poderiam melhorar a produção de uma hortaliça, obtendo maior retorno”, justifica o pesquisador.
AGROECOLOGIA
A atuação do GPEAS está voltada para uma perspectiva de transição agroecológica, em que há inicialmente a minimização do uso de adubos sintéticos e agrotóxicos. “Por isso a utilização de produtos disponíveis na natureza, como a bagana”, explica o Prof. Nonato, cuja ideia de trabalhar diretamente com o agricultor permite a criação de um ambiente de construção do conhecimento e, portanto, de capacitação continuada, benéfico aos agricultores, alunos, pesquisadores e professores, além da inserção da universidade no desenvolvimento da região.
SAIBA MAIS
O Grupo de Pesquisa em Engenharia de Água e Solo – Semiárido é integrado por estudantes de graduação, pós-graduação e pesquisadores, sob a coordenação dos professores Nonato Távora e Alexsandro Oliveira.
Acesse o site do GPEAS.
Veja reportagens da UFCTV sobre trabalhos anteriores do grupo:
Fonte: Prof. Nonato Távora, coordenador do GPEAS – fone: 3366 9764 / e-mail: rntcosta@ufc.br