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Sociedade e Cultura

Projeto fortalece resistência de mulheres atingidas por barragens

O projeto promove um debate crítico sobre a realidade das mulheres cujas vidas foram afetadas pela construção de grandes barragens

Por Marília Torres

Do Blog Divulgando a Extensão

As atividades do projeto “Mulheres atingidas por barragens: construindo o conhecimento agroecológico em áreas rurais do Semiárido Nordestino” começaram no final de 2016 e fazem parte do Programa Residência Agrária (PRA), do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Ceará. É coordenado pela professora Gema Galgani Esmeraldo, supervisionado pela pesquisadora Andréa Machado Camurça e conta com a participação de estudantes de graduação e de mestrado.

O principal objetivo dessa ação é a capacitação e formação de mulheres atingidas por barragens, grandes empreendimentos destinados à produção de energia hidrelétrica e abastecimento de água, que provocam a desterritorialização dessas mulheres e suas famílias.

O projeto surgiu de uma parceria com o Coletivo de Mulheres do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e, com elas, foram planejadas as ações com mulheres dos estados do Ceará, Bahia e Pernambuco. Nos territórios do Ceará e da Bahia, são realizados cursos de formação que tratam das temáticas do feminismo e da agroecologia e propiciam o debate crítico da realidade que atinge principalmente as mulheres, colocadas em condição de extrema vulnerabilidade imposta por esses empreendimentos.

Mulheres se reúnem ao redor das costuras produzidas nos encontros (Foto: Beatriz Fernandes)

Mulheres atingidas por barragens aprendem a Arpillera, técnica de costura chilena (Foto: Beatriz Fernandes)

Uma das principais metodologias trabalhadas no contato com as mulheres dessas regiões é o bordado como ferramenta de resistência e luta. A Arpillera, como é chamada, era uma técnica de costura chilena utilizada pelas mulheres para dar voz a denúncias do regime militar vivido no país. Essa técnica foi incorporada à formação e prática política das mulheres atingidas por barragens como forma de expressão e fortalecimento de sua luta. Além dos cursos, o projeto prevê produzir uma pesquisa que realizará um diagnóstico social da vida e experiência das mulheres no âmbito do feminismo, da produção agrícola e da transição agroecológica.

Para a pesquisadora Andréa Camurça, o retorno que o projeto traz para a comunidade acadêmica e para a sociedade em geral é de suma importância. “(É preciso) pensar a formação interdisciplinar de estudantes dos campos das Agrárias e Humanas com outro olhar sobre a realidade local, dentro de uma perspectiva de formar um profissional que vivencie a experiência local e a trajetória de saberes da comunidade e de sujeitos do campo”, relata a pesquisadora.

Mulheres se reúnem para discutir feminismo e agroecologia (Foto: Beatriz Fernandes)

Encontros reúnem mulheres do Ceará, Bahia e Pernambuco (Foto: Beatriz Fernandes)

Beatriz Fernandes é aluna de mestrado do programa de pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente da UFC e integra o projeto. A estudante fala também da importância do projeto para sua formação pessoal e profissional. “É uma forma de contribuir com a visibilização da luta dessas mulheres, bem como de acrescer o debate sobre o atual modelo energético e de desenvolvimento econômico que se respalda na violação de direitos e na exploração das mulheres, sobretudo as negras e pobres. Estudar as mulheres, o modo de vida, a realidade das populações silenciadas e invisibilizadas me faz crescer como acadêmica e como pessoa. Cada passo é uma compreensão sobre a sociedade em que vivemos e uma reflexão sobre o que devemos fazer para que seja uma realidade melhor para todos e todas”, explica Beatriz.

A coordenadora do projeto, professora Gema Esmeraldo, afirma que o Programa Residência Agrária, ao realizar esse e outros projetos, procura construir relações democráticas com a sociedade civil organizada para garantir o cumprimento da função social da universidade. “(Essa função) deve se realizar para propiciar o compartilhamento de saberes com vistas à emancipação e o fortalecimento das populações historicamente excluídas do conhecimento”, conclui a professora.

Serviço

Para acompanhar as atividades do projeto, siga a página do NEEPA no Facebook.

Programa Residência Agrária – UFC

Endereço: Bloco 850, Campus do Pici

Telefone: (85) 3366.9480.

Agência UFC 7 de novembro de 2017

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