Somente em 2020, 1.363 postes de energia elétrica foram danificados no Ceará devido a colisões envolvendo veículos automotores. Mesmo com o isolamento social ocasionado pela pandemia de covid-19, o número foi 13% superior ao verificado em 2019, de acordo com dados da ENEL, companhia responsável pelo fornecimento de energia no Estado. Considerando apenas Fortaleza e região metropolitana, o aumento foi ainda maior, de 25%, com 795 postes avariados.
Alguns anos antes, quando esse número já era crescente, pesquisadores da Universidade Federal do Ceará desenvolveram um equipamento de proteção que pode ser acoplado aos postes a fim de amortecer o impacto dos abalroamentos, o que confere maior proteção aos postes e reduz a gravidade de eventuais danos aos ocupantes de veículos. A criação foi registrada em 2016, quando o pedido de patente foi protocolado pela UFC.
Em setembro de 2021, o invento, intitulado “Disposição construtiva introduzida em defensa urbana”, foi reconhecido pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), que concedeu mais uma carta patente à UFC ‒ a 19ª da Instituição, sendo a primeira do tipo Modelo de Utilidade (MU). A Universidade divide a titularidade da patente com a antiga Companhia Energética do Ceará (COELCE), que atualmente se chama ENEL.
Defensas urbanas são estruturas feitas geralmente de materiais como concreto ou metal, utilizadas no contexto de trânsito com fins de sinalização ou de proteção de calçadas, canteiros e de objetos situados nesses espaços.
Assinam a patente os professores da UFC Augusto Teixeira de Albuquerque, Tereza Denyse Pereira de Araújo, Antônio Macário Cartaxo de Melo, Alexandre Araújo Bertini, Evandro Parente Junior e Antônio Eduardo Bezerra Cabral (todos do Departamento de Engenharia Estrutural e Construção Civil ‒ DEECC). Também assinam o invento o Prof. Alexandre de Barros Teixeira, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e Joaquim Antônio Nogueira Caracas, engenheiro formado na UFC e sócio da empresa Protensão Impacto Ltda., que participou do projeto.
PROJETO
A demanda para o desenvolvimento de uma nova defensa aplicável a postes de energia partiu da própria ENEL. A empresa havia criado uma defensa feita de concreto e areia, que estava causando questionamentos do poder público devido a fatores estéticos e de acessibilidade, relacionadas à redução de espaço nas calçadas.
“Com essa orientação, procuramos desenvolver uma nova defensa com menores dimensões, com um design harmônico com a cidade, com materiais sustentáveis e de fácil colocação e substituição, porém garantindo o mesmo nível de proteção da defensa original”, explica o Prof. Augusto Albuquerque, atual pró-reitor de Relações Internacionais e Desenvolvimento Institucional da UFC.
O resultado foi uma defensa com camada externa de plástico, preenchida com 50% de poliuretano (material sólido com textura semelhante à espuma) e 50% de raspas de pneu, misturados no momento da aplicação.
O desenvolvimento do projeto passou por quatro etapas principais. Primeiramente, houve várias reuniões para discutir possíveis soluções, nas quais cada especialista apontava os requisitos de sua área, tais como materiais, design, fabricação de moldes, modelagem computacional etc.
Depois foram realizados ensaios de caracterização de materiais, seguidos por simulações computacionais para se estimar o comportamento das defensas propostas. Por fim, foram feitos ensaios de impacto, com simulação de acidentes no campo de prova da ENEL, localizado em Maracanaú, na região metropolitana de Fortaleza.
SIMULAÇÃO
Nos ensaios, considerou-se um automóvel de 1 tonelada, a uma velocidade de 60 quilômetros por hora (km/h), colidindo contra um poste do tipo MT 300. A defensa proposta apresentou uma redução média de 30% na energia de impacto da batida. Nesse cenário, o poste sofre algumas avarias, mas não apresenta perda do seu eixo, mantendo-se firme ao solo ‒ o que, em caso de colisões, diminui danos aos ocupantes de veículos e à integridade dos postes.
“Com isso, evita-se em alguns casos a queda dos postes, reduzindo-se a gravidade dos acidentes e mantendo-se o fornecimento de energia”, pontua Albuquerque. Segundo ele, os principais diferenciais da defensa criada é que ela apresenta menores dimensões, possui aspecto estético que se integra à demanda de uma grande cidade e tem vantagens funcionais, já que pode ser facilmente colocada e substituída nos postes. Além disso, o equipamento é adaptável para conter recipientes basculantes, que podem funcionar como jardineiras ou lixeiras, por exemplo.
O docente diz ter grande satisfação pelo reconhecimento do trabalho. “Foi um projeto muito desafiador, no qual nosso time do DEECC trabalhou em parceria com outras instituições de maneira muito enriquecedora, além de termos desenvolvido um produto que pode salvar vidas, e isso não tem preço.”
Ele também destaca a importância do trabalho realizado pela Coordenadoria de Inovação Tecnológica (UFC Inova), responsável pelos processos de proteção e acompanhamento dos ativos da Universidade no INPI.
“A equipe se mantém atualizada sobre a legislação específica e sobre as publicações do INPI, complementando o conhecimento técnico dos pesquisadores, prestando apoio, mentorias e disponibilizando materiais de orientação para o deferimento de uma patente”, ressalta Albuquerque.
Segundo o pesquisador, após a concessão da patente pelo INPI uma empresa cearense já manifestou interesse em produzir e fornecer as defensas a distribuidoras de energia.
Fonte: Prof. Augusto Albuquerque, do Departamento de Engenharia Estrutural e Construção Civil ‒ e-mail: augusto.albuquerque@ufc.br
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