Agência UFC

Ciências

Desvendando o universo microscópico

Projeto de extensão apresenta mundo da microscopia a estudantes e propõe aliança da ciência com a arte

Por Alessandra Vital

da Agência UFC

Deslumbrar-se com o que é invisível a olho nu. Maravilhar-se com sistemas mínimos. Descobrir universos complexos em minúsculas estruturas de glândulas mamárias de cabras lactantes, cristais de vinho, mofos de cajueiro, fungos, medulas de camundongos, entre outras. Fazer chegar à comunidade o encantamento que a ciência básica é capaz de proporcionar.

Com esses propósitos, “nasceu” em maio deste ano a Liga Acadêmica de Embriologia e Microscopia Aplicada (LAEMA), projeto de extensão vinculado ao Departamento de Morfologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (Famed/UFC).

Reunindo, atualmente, estudantes de Medicina, Odontologia e Farmácia, o projeto proporciona visitas aos laboratórios da UFC a alunos dos ensinos fundamental e médio de escolas públicas e particulares da capital. “É uma oportunidade de aprendizagem sobre assuntos que são apenas introduzidos no ensino médio, em um nível maior de complexidade”, explica a coordenadora da LAEMA, Profª Virgínia Girão.

Desde maio, cerca de 100 alunos já participaram das visitas. Sob a supervisão de docentes da Universidade, estudantes que integram a Liga recebem os grupos e lhes apresentam microscópios, lâminas e situações clínicas. “Nas lâminas, colocamos, por exemplo, um tecido nervoso normal e exibimos fotos de um tecido ‘doente’ para que os alunos associem os sinais e sintomas da doença com as alterações morfológicas”, relata a Profª Renata Leitão, vice-coordenadora do projeto.

Além de estimular a promoção científica da embriologia e da microscopia, as trocas entre estudantes de diferentes níveis de ensino traduzem o sentido da extensão universitária. “A ideia de os alunos de escola pública despertarem para uma área em que nunca pensaram é muito gratificante, ainda mais quando sabemos que isso contribui bastante para a formação humanística dos estudantes da UFC. É muito importante formar os alunos de saúde nessa perspectiva”, defende a Profª Renata Leitão.

 

Imagem em preto e branco de um microorganismo em formato arredondado (Foto: João Victor Serra Nunes)

Diatomáceas (micro-organismos eucriontes) vistas a partir de microscópico eletrônico de varredura, com aumento de 12 mil vezes (Imagem: João Victor Serra Nunes)

 

Imagem abstrata verde com pontos vermelhos (Imagem: Francisco Fábio Bezerra de Oliveira))

Beleza em rede: pesquisadores usaram microscopia confocal da imunoexpressão de c-Fos (vermelho) e NeuN (verde) no dorso de medula de um camundongo (Imagem: Francisco Fábio Bezerra de Oliveira)

 

Imagem de estrutura azul sobre marrom, que lembra o mar sobre a areia do litorall (Autores: Rodolfo de Melo Nunes, Fernanda Maria Porto Ximenes, Ana Carolina Matias Dinelly Pinto, Francisco Airton Castro da Rocha, Virgínia Cláudia Carneiro Girão))

Parece uma praia tranquila, mas é o fêmur de camundongo visto por meio de microscopia eletrônica de varredura, ampliado 1.400 vezes (Autores: Rodolfo de Melo Nunes, Fernanda Maria Porto Ximenes, Ana Carolina Matias Dinelly Pinto, Francisco Airton Castro da Rocha, Virgínia Cláudia Carneiro Girão)

 

ARTE NA CIÊNCIA

A dedicação à microscopia fez a Profª Virgínia Girão ver além do óbvio. Assim, estruturas mínimas, com suas formas abstratas coloridas e ampliadas, ganharam outro sentido e despertaram a sensibilidade artística da coordenadora do projeto. “Essa percepção veio como uma inspiração. Observava as lâminas ao microscópio e ficava muito admirada com o que me surgia e me encanto até hoje. A partir do uso do microscópio eletrônico de varredura e do confocal, tive minha paixão pela beleza das imagens acesa”, revela.

O potencial artístico da área também se tornou objeto da Liga e a adesão de outros amantes da microscopia foi comprovada: em um processo que envolveu estudantes, professores e profissionais de instituições de ensino e pesquisa de todo o país, 50 imagens foram selecionadas para compor uma exposição. Destas, as 12 mais bem avaliadas por comissão formada por representante da Central Analítica, docentes e fotógrafos da UFC farão parte de um calendário para o ano de 2018.

 

Fotografia em preto e branco que destacam pequenos filamentos, como se fossem dedinhos (Imagem: Francisco Breno Silva))

Os pequenos filamentos da obra “Floresta tricomal” são apêndices epidérmicos das estípulas (estruturas do caule que ficam junto a bainha das folhas) de uma planta tropical, a Ixora-chinesa (Imagem: Francisco Breno Silva)

 

Pontos arroxeados e amarelados de uma célula em metástase ((Imagem: Giselle Nassif Conti/Universidade estadual Paulista Júlio Mesquita Filho)

A imagem retrata a metástase de uma neoplasia na pele de um cão, colorida em panóptico e ampliada 400 vezes (Imagem: Giselle Nassif Conti/Universidade Estadual Paulista Júlio Mesquita Filho)

 

Imagem lembra fogos de artifícios vermelhos, com rajadas azuis, em céu negro (Foto:Delane Viana Gondim)

As luzes em vermelho e azul da obra “Réveillon”, na verdade, são imunofluorescência de PBM e DAPI de nervo infraorbital de ratos  (Foto: Delane Viana Gondim)

 

A interação proposta pela LAEMA resultou na participação de estudantes da Escola Estadual de Ensino Médio Prof. Mário Alencar na mostra, que contou com fotos obtidas através de microscopia óptica, confocal e eletrônica. A estudante Carla Pâmela Guia enviou a imagem ampliada de um fungo. “É bastante interessante trazer algo do nosso cotidiano de forma artística”, comenta. Aluna da mesma instituição, Kariny Bezerra expôs a imagem de células de folhas de jamboeiro. “É encantador porque são coisas que as pessoas não veem a olho nu, e é lindo”, relata.

A exposição Arte sob o microscópio foi realizada em parceria com a Central Analítica, com o Museu de Arte da UFC (MAUC) e com o Escritório- Modelo de Design da Universidade.

PRÓXIMOS PASSOS

Recém-criada, a Liga de Embriologia e Microscopia Aplicada traça planos para ampliação de suas ações. Tornar itinerante a exposição é uma das ideias. “Queremos levar a mostra para escolas públicas”, adianta a Profª Renata Leitão.

A troca com a rede de ensino pública também deve ser expandida. Para o próximo semestre há previsão de capacitações para professores dos ensinos fundamental e médio, o que deve garantir a multiplicação dos conhecimentos compartilhados. Para tanto, os estudantes da UFC que integram a Liga reúnem-se em grupos de estudos sobre microscopia, histologia e embriologia para, sob supervisão dos docentes da UFC, passar adiante conteúdos dessas áreas. Para a Profª Virgínia, o processo é rico. “Essa motivação gera estímulos para o processo de ensino-aprendizagem, seja para os alunos do projeto que realizam a ação, seja para quem recebe essa intervenção. A troca é mútua”, conclui.

 

Biofilme de Fusarium solani (espécie de fungo) formado em lente de contato Alphafilcon A (Autores: Ewerton Weslley Caracas Cedro; Fernando Victor Monteiro Portela; Ana Raquel Colares de Andrade; Rossana de Aguiar Cordeiro)

Biofilme de Fusarium solani (espécie de fungo) formado em lente de contato Alphafilcon A (Autores: Ewerton Weslley Caracas Cedro; Fernando Victor Monteiro Portela; Ana Raquel Colares de Andrade; Rossana de Aguiar Cordeiro)

 

Folículo degenerado de amostra de tecido ovariano ovino (Autores: Luciana Mascena Silva; Ana Paula Ribeiro Rodrigues; Rosemeire Souza Freire; Laritza Ferreira de Lima; Denise Damasceno Guerreiro; Danielle Cristina Calado de Brito; Kele Amaral Alves; Benner Geraldo Alves; Giovanna Quintino Rodrigues e José Ricardo de Figueiredo)

Folículo degenerado de amostra de tecido ovariano ovino (Autores: Luciana Mascena Silva; Ana Paula Ribeiro Rodrigues; Rosemeire Souza Freire; Laritza Ferreira de Lima; Denise Damasceno Guerreiro; Danielle Cristina Calado de Brito; Kele Amaral Alves; Benner Geraldo Alves; Giovanna Quintino Rodrigues e José Ricardo de Figueiredo)

 

Formas que lembram borboletas na verdade são cristais de vinho (Foto: Marcus Raimundo Vale)

A imagem, que lembra borboletas, na verdade apresenta cristais de vinho tinto em lâminas de vidro. Ela foi obtida por microscopia óptica (Foto: Marcus Raimundo Vale)

 

SERVIÇO

Liga Acadêmica de Embriologia e Microscopia Aplicada (LAEMA)

Facebook: /Liga-Acadêmica-de-Embriologia-e-Microscopia-Aplicada-LAEMA

E-mail: laemaufc@gmail.com

 

 

Agência UFC 27 de setembro de 2017

Assuntos relacionados

Imagem de vários cajus juntos Bagaço de caju é utilizado para produzir hidrogênio em processo inédito e sustentável; pesquisadores estudam projeto de biorrefinaria

Em parceria com a Universidade de Nápoles, na Itália, grupo da UFC confirmou viabilidade de produção do combustível a partir da biomassa vegetal. Trabalho agora está voltado ao aperfeiçoamento da técnica

Três frascos com líquido azul fosforescente, com a cor ficando mais forte nos fracos da esquerda para a direita; o fundo é preto para destacar a cor UFC delivers faster, cheaper method for detecting pesticides in food products

The technology, developed in association with Chilean universities, uses light signals to identify contamination

Mão segurando dois camarões (Foto: Jr. Panela/UFC) Alternativas mais baratas de rações para camarão

Pesquisadores do Labomar produziram ração de origem vegetal, reduzindo custos para fabricantes do alimento e produtores