O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é identificado por déficits ou falhas na comunicação e interação interpessoal e por comportamentos, interesses e atividades repetitivas e restritas. O diagnóstico chega, muitas vezes, ainda na infância. Atualmente, as tecnologias vêm se tornando uma grande aliada do processo terapêutico dessas crianças. É com essa visão que surgiu o projeto de extensão Tecnologia Educacional para Crianças Autistas (TECA), do Curso de Engenharia da Computação do Campus da Universidade Federal do Ceará em Sobral. O objetivo principal é produzir jogos educativos para crianças de 4 a 10 anos de idade.
Um deles é um aplicativo para celulares do sistema operacional Android que leva o mesmo nome do projeto. No site de divulgação do jogo, é possível conhecer mais sobre as metodologias de ensino e tratamento próprios para esse público. De acordo com o coordenador do TECA, Prof. Alexandre Fernandes, o app tem a finalidade de ajudar no desenvolvimento da criança, ensinar noções de cores, animais e atividades da vida cotidiana.
“É um jogo para estimular a socialização porque usa a técnica da realidade aumentada e no qual a criança é encorajada a buscar objetos e tirar fotos do ambiente”, explica o professor. Um dos principais focos do aplicativo é retirar as crianças autistas do isolamento social. Para isso, foram criadas fases nas quais outros participantes devem entrar para que se possa avançar no jogo.
O TECA atende hoje as crianças assistidas pela Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) de Sobral. Os bolsistas tiveram de conhecer melhor a rotina dessas crianças para desenvolver o trabalho. Todo o contato dos estudantes e do coordenador do projeto com elas foi intermediado pela psicóloga Shyrlane Souza. De acordo com a profissional, foi essencial essa convivência para que os extensionistas tivessem a sensibilidade de montar os jogos a partir das necessidades de cada uma.
TRABALHO EM COOPERAÇÃO
As reuniões com Shyrlane e as mães dos autistas foram importantes para desenvolver o aplicativo com foco na adaptação à realidade daquelas famílias. “As crianças autistas já têm maior vínculo com os celulares, e as mães já procuravam passatempos para elas. Foi uma novidade ter a possibilidade de montar esse jogo em conjunto”, explica a psicóloga.
A fase inicial do TECA foi encarada como um teste, e agora os estudantes buscam aperfeiçoar a tecnologia. Conforme Shyrlane Souza, foi aplicado um questionário com as mães, depois de utilizarem a primeira versão do jogo, para conhecer a opinião delas sobre o aplicativo. A resposta foi positiva: disseram estar satisfeitas com o conteúdo e que indicariam o app para outras pessoas.
Atualmente, a equipe está desenvolvendo a segunda fase do jogo, que terá diversas melhorias e aprimoramentos, com base nas sugestões e opiniões do questionário. Em breve, o aplicativo será disponibilizado para download de forma gratuita. Uma das preocupações, segundo o Prof. Alexandre, é a de que um maior número de pessoas seja atendida. Por isso, a escolha do sistema operacional Android, mais acessível. “O nosso foco não é fazer só ensino, pesquisa e extensão, mas de fato colocar esse produto de forma livre para qualquer pessoa”, ressalta.
Segundo o bolsista Milton Dutra, estudante de Engenharia da Computação, o TECA surgiu como um incentivador dos interesses dos alunos. Milton já era desenvolvedor independente de jogos digitais e entrou no grupo para aprimorar o aplicativo, sendo o responsável por realizar atividades na área do desenvolvimento técnico, criando novas fases dos jogos e resolvendo bugs do sistema. Mas, para além das potencialidades tecnológicas, o projeto transformou a vida do aluno.
“Eu nunca tinha tido contato com autistas antes. E interagir com elas foi sem dúvida uma experiência enriquecedora que vou levar para o resto da minha vida. É muito gratificante contribuir de alguma forma para a aprendizagem de pessoas que muitas vezes não recebem assistência, não têm tecnologias assistivas voltadas para suas necessidades. É maravilhoso poder contribuir na inclusão delas e fascinante conhecer a maneira diferente com que elas enxergam o mundo”, diz Milton.
DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES
Para a mãe Socorro Fernandes, o jogo foi essencial para trabalhar a concentração e a atenção do filho autista. O pequeno Igor de 7 anos já tinha familiaridade com celulares antes mesmo do app. A mãe sempre baixava jogos para o menino, assim Igor não sentiu muitas dificuldades de adaptação com a tecnologia. Um dos pontos destacados por Socorro foi a superação de medos. “Meu filho tinha medo de balões. Agora, quando ele os vê no jogo, entende que os balões são uma comemoração [por ele ter passado pela fase que fazia referência a isso]”, diz.
O contato com os participantes foi muito tranquilo, de acordo com Socorro. Ela conta que o aplicativo foi instalado em outro celular, e a psicóloga comunicava as dificuldades e os acertos de Igor. Esse diálogo e a sensibilidade em atender as crianças foram fundamentais para levar o TECA a uma segunda fase. “Só tenho a agradecer pela experiência. Só de fazer um projeto desses mostra a sensibilidade que os estudantes têm pela causa”, finaliza Socorro Fernandes.
SAIBA MAIS
O projeto de extensão Tecnologia Educacional para Crianças Autistas (TECA) foi derivado do grupo de pesquisa e extensão Tecnologias Assistivas Educacionais (TAE), vinculado ao Campus da UFC em Sobral, que tem como foco o desenvolvimento de projetos de tecnologia para pessoas com deficiências e elaboração de estudos na área de educação. O TECA foi idealizado por Euclides Barrozo, atualmente mestrando em Engenharia Elétrica e de Computação em Sobral. Hoje, além dele, do Prof. Alexandre Fernandes, da Psicóloga Shyrlane Souza e do Desenvolvedor Milton Dutra, integram também a equipe Pedro Renoir (Desenvolvedor), Ester do Nascimento (Dubladora) e Ítalo Felix (Designer).
O contato com a APAE surgiu através de um ex-aluno do Curso de Engenharia da Computação, Francisco José Prado Júnior. Com paralisia cerebral, foi atendido pela associação quando criança e chegou a trabalhar na APAE durante a faculdade. O projeto de conclusão de curso dele também foi nessa área: produziu um mouse adaptado para pessoas com deficiência.
Clarice Nascimento, sob orientação de Narjara Pires
Fonte: Prof. Alexandre Fernandes, coordenador do projeto de extensão Tecnologia Educacional para Crianças Autistas (TECA) – (85) 99766.7792