Na entrada do que é a chamada Casa da Música, em uma escola municipal no Bairro Henrique Jorge, já é possível ver, ou melhor, ouvir a grandeza do projeto. A ação de extensão Oficina de Instrumentos de Sopro – Metais é desenvolvida pelo Curso de Música da Universidade Federal do Ceará e, em parceria com a escola José Alcides Pinto, oferece aulas de instrumentos de sopro da família dos metais aos alunos da instituição.
O Prof. Leandro Serafim, coordenador do projeto, ao entrar como docente na UFC, em 2014, buscou uma parceria com a escola, que possuía instrumentos disponíveis. “Essa parceria é de via dupla. Pedi emprestado os instrumentos e, a partir disso, iniciei um projeto de ensino de metais, naquela ocasião através do PIBID [Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência]”, conta o coordenador.
As oficinas geralmente são ofertadas no contraturno das aulas dos estudantes, que escolhem o instrumento que desejam aprender. As opções são trompete, eufônio, tuba, trombone e trompa de marcha. O ensino segue uma metodologia ativa e é feito de maneira coletiva. “O aluno, desde o primeiro momento, já recebe o instrumento e começa a fazer música dentro de seu nível”, explica o Prof. Leandro.
As turmas são organizadas por níveis: iniciante, intermediário e avançado, que variam de acordo com o desenvolvimento do próprio estudante no decorrer da oficina. A cada início de semestre, entram novos alunos. O critério de seleção, segundo a organização do projeto, é o interesse. “Para a seleção, passamos em cada sala, do sexto ao nono ano, e inscrevemos os interessados”, explica João Carlos, bolsista da ação. Neste ano de 2019, trinta alunos da escola, entre 10 e 15 anos, participaram do projeto.
Foi a partir desse interesse pela música que o estudante Kelven Ruan, de 15 anos, entrou no projeto. O aluno do nono ano, que foi um dos primeiros a participar da oficina, conta que sempre gostou de música, mas, por questões financeiras, achava inviável estudá-la. “Eu sempre observava pela TV e me interessava em tocar, mas em geral são cursos pagos. Quando surgiu a oportunidade de fazê-lo aqui, grátis, eu me interessei e entrei”, relata.
ESPAÇO
Na Casa da Música, são ministradas as aulas de música, como as da oficina de instrumentos de sopro, além dos ensaios da Banda Fanfarra da instituição. Samuel Ruan, ex-aluno do colégio, conhece de perto a importância do espaço. O estudante do ensino médio, que também é morador do bairro, teve o primeiro contato com a música dentro do projeto e, atualmente, é um dos regentes da Banda Fanfarra. Para o músico, as ações da Casa da Música mudaram sua realidade e a de outros jovens.
“A música, para mim, foi uma terapia. Muitas vezes estou com a cabeça muito cheia e, quando estou assim, procuro a Casa da Música. Às vezes, mesmo sem nenhuma atividade, eu prefiro ficar aqui. Eu passo meu tempo aqui, não perco meu tempo fazendo besteira. A maioria dos alunos mora em periferia, na comunidade e, diariamente, recebo mensagens das mães falando que a banda mudou a vida deles”, desabafa o estudante.
O Prof. Leandro Serafim acredita que o projeto tem impactado positivamente os jovens da escola: “Alguns deles têm se desenvolvido tanto quanto alunos que realizam as aulas na graduação e que iniciaram mais ou menos no mesmo período. O contato com o bolsista, as aulas de música e as visitas à Universidade, certamente, conectam os alunos com a possibilidade de seguirem seus estudos no curso de licenciatura em Música da UFC. Minha formação musical começou aos 10 anos, numa banda de escola, e hoje sou professor de música da UFC. Se eu consegui, eles também podem e fazemos questão de deixar isso claro para eles”, explica o docente.
EXTENSÃO
A ação também é uma oportunidade de vivência da extensão. João Carlos é estudante do curso de licenciatura em Música da UFC e bolsista do projeto. Ele conta que, através das ações, começou a entender a realidade da profissão. “Quando você é adolescente, não tem essa ideia. Mas, quando se torna professor, começa a ver o outro lado e a pensar: se eu fizer um trabalho legal, estou salvando esses meninos ”, diz o estudante da UFC.
Segundo o coordenador Leandro Serafim, é essa prática da vivência da profissão, fora da academia, que caracteriza a extensão, e a participação de alunos do Curso de Música é fundamental para esse tipo de iniciativa. “O trabalho de extensão é para possibilitar aos alunos do curso de licenciatura em Música uma prática pedagógica nesses espaços, que não são em um laboratório. O incentivo a esse tipo de ação, possibilitado pela bolsa de extensão, é essencial. Nós não estamos falando de pagar a alguém, mas pagar uma ação, investir em uma ação”, explica o professor.
APRESENTAÇÕES DO GRUPO
Os alunos do projeto atendem às solicitações regulares da própria escola para apresentações internas e externas e se apresentam uma vez por semestre no Recital das Classes de Metais do Curso de Licenciatura em Música da UFC.
SERVIÇO
A comunidade externa à UFC também pode participar das aulas do projeto de extensão Oficina de Instrumentos de Sopro – Metais que são oferecidas no Instituto de Cultura e Arte da UFC, no Campus do Pici Prof. Prisco Bezerra.
A cada novo semestre, são abertas inscrições para cerca de 20 vagas. A divulgação das inscrições é feita nas redes sociais da Banda Sinfônica da UFC e da Orquestra Sinfônica da UFC Fortaleza.
Instagram: @bandasinfonicadaufc
Facebook: Banda Sinfônica da UFC e Orquestra Sinfônica da UFC Fortaleza
Ely Eulle Viana, sob supervisão de Narjara Pires
Fonte: Prof. Leandro Serafim, do Curso de Música da UFC – e-mail: leandro.serafim@ufc.br