A morte ainda é um grande tabu na sociedade. Em uma pesquisa encomendada em 2018 pelo Sindicato dos Cemitérios e Crematórios Particulares do Brasil (SINCEP), 65% dos entrevistados relataram dificuldade em lidar com a morte. A mesma pesquisa mostrou que 55% dos participantes concordavam com a importância de se falar sobre o assunto.
Nesse sentido, o Projeto Integrado de Pesquisa e Extensão em Perda, Luto e Separação (PLUS+) atua por meio de ações de apoio às pessoas que estão passando por situações de perda. Ativo desde 2003, o grupo é vinculado ao Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Ceará e já atendeu, de modo gratuito, mais de mil pessoas.
Além da promoção em saúde mental, o grupo desenvolve a prevenção do uso indiscriminado de antidepressivos e de ansiolíticos (remédios sintéticos usados para diminuir a ansiedade e a tensão), acolhendo todos os tipos de luto. Por isso, o público assistido é variado. Idosos, adolescentes e crianças, que comparecem voluntariamente ou são encaminhadas pelos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) ou hospitais de Fortaleza e de cidades vizinhas.
O grupo terapêutico de apoio ao luto PLUS+ Transformação, como é chamada essa parte do projeto, atua em diferentes fases para ajudar na elaboração e superação do luto. O participante tem a oportunidade de falar sobre a perda e participa de momentos de atividades variadas, como meditação guiada, relaxamento e terapia.
AMBIENTE ACOLHEDOR
No início dessas sessões, o ambiente é preparado com colchonetes e lâmpadas fotocromáticas, para maior conforto. Ao chegar ao grupo, cada pessoa é abraçada, segundo os integrantes do grupo, “para que seja acolhida em sua dor”. São realizadas meditações guiadas e alongamentos físicos. Os participantes também são estimulados a falar sobre a razão de estarem ali, e, assim, a equipe mostra em qual fase do luto a pessoa encontra-se, para que ela possa entender seu processo de luto. Ao final das atividades grupais, o participante é levado a refletir sobre o que apreendeu dentro do grupo e como pretende utilizar as técnicas aprendidas na superação da dor.
São vários os métodos terapêuticos utilizados no grupo PLUS+ Transformação. A auriculoterapia é um deles e consiste em aliviar dores e outros sintomas, advindos de desequilíbrios físicos e/ou emocionais, por meio da acupuntura em pontos específicos da orelha. O grupo sempre utiliza terapias naturais, sem uso de medicamentos, e baseia-se em técnicas não invasivas ao corpo, por acreditar que a própria pessoa é a protagonista da recuperação e, assim, autorresponsável por sua cura.
“O grupo me ajudou de muitas formas, principalmente com o depoimento de outras pessoas. Graças a Deus e com a terapia da Dra. Angela Souza, eu estou de pé, com força e vontade, e tudo que vinha antes na minha cabeça, hoje não existe mais” (Jorge Henrique, participante do projeto)
A Profª Angela Souza, coordenadora do projeto, explica que o luto é trabalhado na ação como um processo natural, a ser compreendido e superado, e não como um tabu ou problema. “Na condução do grupo, não usamos a palavra ‘problema´. E quando esse termo é pronunciado pelos participantes, peço que seja trocado pela condição de ‘situação a ser enfrentada’, isto é, ter um caminho a seguir com suas próprias estratégias para vencer e elaborar a dor e o sofrimento”, afirma a professora em seu livro publicado sobre o projeto.
DOR COMPARTILHADA
O compartilhamento da dor vivenciada dentro do grupo foi essencial na vida do artesão Jorge Henrique. O participante, de 53 anos, perdeu a mãe e conta que quando o fato ocorreu ele não encontrava motivação para seguir adiante. Ao entrar no PLUS+, Jorge viu-se amparado com as terapias e com os relatos de outros participantes. “O grupo me ajudou de muitas formas, principalmente com o depoimento de outras pessoas. Graças a Deus e com a terapia da Dra. Angela Souza, eu estou de pé, com força e vontade, e tudo que vinha antes na minha cabeça, hoje não existe mais”, relata.
Além da coordenação da Profª Angela, o projeto conta com o auxílio de bolsistas que põem em prática, na extensão, o que é ensinado em sala de aula. Para Elaine França, estudante de Enfermagem e bolsista do projeto, a participação no Plus+ possibilitou uma percepção mais humanizada das pessoas. “Não há dúvidas de que, como membro do PLUS+, não adquiri apenas conhecimento, destreza, empatia, responsabilidade, capacidade de liderança, eloquência, mas tornei-me completamente apaixonada pela atenção integral ao ser humano, uma vez que nesse projeto é possível vivenciar a essência da Enfermagem: cuidar”, afirma a futura enfermeira.
O projeto oferece, além das terapias, outras atividades. Anualmente, é realizado o Seminário PLUS+, para que sejam discutidos e ampliados os conhecimentos acerca de temas que, geralmente, são pouco trazidos à tona dentro da universidade, como a morte e o luto. Ainda em relação ao ensino, são promovidos cursos de auriculoterapia, toque terapêutico, arteterapia e florais de Bach (essências de flores e plantas que podem ser utilizadas como tratamento complementar contra doenças e desequilíbrios emocionais). Às quintas-feiras, há consultas de enfermagem com auriculoterapia para discentes, docentes e funcionários, enquanto as sextas-feiras são destinadas à população em geral.
SERVIÇO
Qualquer pessoa pode participar do projeto. Os encontros acontecem toda segunda-feira, das 8h30min às 11h, no Laboratório de Práticas Alternativas em Saúde (LABPAS), do Departamento de Enfermagem da UFC (Rua Alexandre Baraúna, 1115, bairro Rodolfo Teófilo – Fortaleza). O serviço é gratuito. Além das terapias dentro do projeto e do grupo PLUS+ Transformação, as pessoas que necessitam de acompanhamento individual também são assistidas em consultório de enfermagem, com florais de Bach, auriculopuntura e acupuntura Tung. Mais informações pelo e-mail amasplus@yahoo.com.br.
Ely Eulle Viana, sob supervisão de Narjara Pires
Fonte: Profª Angela Souza, coordenadora do PLUS+ e docente do Departamento de Enfermagem – fone: (85) 3366 8457