Guardando o posto de segundo maior produtor de carne de frango do mundo, o Brasil exportou, apenas em 2021, cerca de 4,6 milhões de toneladas do produto, superando os recordes dos anos anteriores. Os números deixam óbvia a importância que as aves têm para a economia do País, mas também apontam para a necessidade de garantir sempre as melhores condições de produção a esse mercado, incluindo o bem-estar do animal.
Um dos pontos críticos enfrentados na produção de frangos de corte está no transporte dos animais da fazenda até o abatedouro, feito normalmente com uso de caixas, o que pode gerar índices consideráveis de perda e morte dos animais, por estarem submetidos a condições de alta temperatura, pouca circulação de ar e umidade concentrada.
O problema é foco da nova patente da Universidade Federal do Ceará, baseada no desenvolvimento de dispositivos que permitem um sistema voltado a melhorar a circulação do ar no interior da carga, diminuindo os riscos de perdas e morte. O projeto foi desenvolvido no Centro de Ciências Agrárias da UFC.
A ideia do invento é usar dispositivos simples que aumentam o espaço entre as caixas comercialmente usadas no transporte das aves, já que normalmente elas ficam empilhadas diretamente umas sobre as outras na formação da carga, causando condições de estresse que podem resultar na morte dos frangos. Esses dispositivos, chamados de espaçadores, são acoplados entre as caixas, criando corredores de ar entre elas.
Assim, com o deslocamento do caminhão, o ar consegue percorrer o interior da carga de forma mais livre, o que ocorre também com a ajuda de dispositivos coletores de vento acoplados tanto nas caixas quanto entre os corredores verticais e horizontais criados.
“Quando instalados entre as caixas, [os espaçadores] promoverão uma descompactação da carga, e os coletores de vento, instalados nas laterais ou topo da carga, possibilitarão o direcionamento do vento para o interior [dessa carga], melhorando assim as condições ambientais e de bem-estar dos animais durante o trajeto da viagem”, resume o Prof. José Antonio Delfino, um dos inventores que assinam a carta patente.
CONDIÇÕES
Inventos como esse são importantes, considerando o grande volume de aves vivas transportadas diariamente pelo Brasil, bem como o elevado número de perdas resultante dessa etapa ainda pouco estudada.
Assim, garantir boas condições para o transporte se torna essencial, uma vez que as circunstâncias climáticas da maioria das regiões do Brasil são caracterizadas por temperaturas elevadas e alta variação de umidade, este último fator é o ponto importante para a regulação interna de temperatura das aves.
“Elevados valores [de umidade] na carga podem saturar o ambiente onde os animais se encontram e com isso comprometer o sistema de trocas térmicas deles. Por isso é tão importante garantir uma boa ventilação no interior da carga para que a umidade não atinja valores fora dos limites recomendáveis para aves nessa situação de transporte”, explica o Prof. Delfino.
Um método comumente utilizado para tentar minimizar os danos do estresse térmico por calor é o molhamento da carga, que consiste em resfriar os animais com o uso de água. A medida, porém, é controversa, com eficiência questionável, já que pode inclusive gerar quadros ainda piores de desconforto térmico.
“Como não se tem um bom controle do quanto, como e onde deve ser realizado o molhamento, essa prática poderá causar a elevação dos valores de umidade em determinados pontos da carga, e esses provavelmente irão coincidir com os locais mais desconfortáveis, do ponto de vista térmico, para os animais”, diz o professor.
PATENTE
Essa já é a carta patente de número 23 concedida à UFC pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), órgão responsável pelo registro dos inventos. O depósito do sistema de aeração para o transporte de aves foi feito em 2016, sendo o registro concedido em dezembro de 2021. Também assina como inventor Daniel Gurgel Pinheiro, na época estudante na UFC.
A ideia para o invento surgiu no Núcleo de Estudos em Ambiência Agrícola e Bem-Estar Animal (NEAMBE), do Departamento de Engenharia Agrícola da UFC, coordenado pelo Prof. José Antonio Delfino. “Estamos sempre em busca de detectar os principais pontos críticos de cada tipo de transporte e seus efeitos nos animais”, conta o Prof. Delfino, lembrando ainda que há trabalhos sendo realizados para a melhoria do transporte de outros animais, com a expectativa de novas patentes a serem obtidas.
Fonte: Prof. José Antonio Delfino, do Departamento de Engenharia Agrícola da UFC – e-mail: zkdelfino@gmail.com
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